A blogosfera chinesa, embora reduzida para os padrões ocidentais, já começa a incomodar o governo e competir com a imprensa local em matéria de cobertura de assuntos regionais.
É muito difícil saber o número de chineses que têm acesso à internet e mais ainda o dos que divulgam notícias através de weblogs. Isto porque a grande maioria atua na informalidade usando os mais criativos expedientes para contornar o controle governamental.
Há estimativas de que existam pelo menos uns cem mil chineses com acesso privado à internet, fora dos locais de trabalho, o que é menos de 0,01% da população do país. No Brasil, 18% da população já tem acesso à Web e nos Estados Unidos, o total chega a 90%.
O que se sabe é que há 50 blogueiros presos e quase 150 respondendo a processos por violação das normas estatais sobre uso da internet e de acesso à sites estrangeiros.
Mas as estatísticas têm uma importância relativa no estudo do caso chinês, segundo afirma a jornalista Rebecca MacKinnon, atualmente contratada pela universidade de Hong Kong para desenvolver um estudo sobre weblogs na China.
Rebecca fez uma pesquisa acadêmica e descobriu que 64% dos 400 correspondentes estrangeiros em Beijing consultam weblogs chineses regularmente há pelo menos dois anos, e que os informantes autônomos formam quase 70% do material usado para reportagens sobre assuntos chineses.
O correspondente François Bougon, da agência de notícias France Presse citou dois casos recentes de escândalos em províncias chinesas denunciados por weblogs e que foram divulgados pela imprensa internacional, muito antes dos jornais e do governo chinês publicarem algo sobre eles.
O caso mais revelador foi o das denúncias sobre trabalho escravo infantil em duas províncias chinesas, onde crianças com menos de 10 anos de idade trabalham em olarias fabricando tijolos.
Um abaixo assinado de 400 famílias circulava havia pelo menos seis meses entre jornais e funcionários públicos, sem que nada fosse divulgado oficialmente, até que os weblogs começaram a publicar a denúncia e o assunto chegou aos correspondentes estrangeiros. Em menos de uma semana, o governo ordenou uma investigação.
Outro caso que também mobilizou a blogosfera chinesa foi o de um casal que se recusou a deixar sua casa enquanto não recebesse uma indenização adequada dos incorporadores que pretendem usar o terreno para construir um grande empreendimento imobiliário.
Nas duas últimas semanas, os blogs chineses começaram a publicar fotos sobre incidentes envolvendo vendedores ambulantes e a polícia, nas cidade de Chongqing e de Zhengzhou (ambas no sudoeste da China).
A pesquisa com os correspondentes estrangeiros na China revelou que 35% deles consultam os blogs porque eles são mais rápidos na divulgação de informações, embora apenas 9% dos jornalistas confiem plenamente em tudo o que é publicado pelos jornalistas-cidadãos chineses.
Admitiram que procuram basicamente opiniões pessoais e fontes de informação para reportagens. Quase 60% dos correspondentes acessam os blogs através de tradutores ou auxiliares chineses, porque muitos weblogs são publicados usando algum dos 29 idiomas regionais do país.