Tomara que o noticiário dos próximos dias me faça morder a língua, mas hoje como hoje parece que a mídia vai deixar baratinho, baratinho a verdade sobre o vazamento das fotos da dinheirama que serviria para pagar o dossiê que o presidente Lula chamou ontem de ‘tiro no pé’.
A responsabilidade da imprensa nesse caso vai além da obrigação que deveria ser rotineira de tentar apurar os comos e os porquês de um ato que seguramente afetou os resultados do primeiro turno da eleição presidencial.
Vai além porque a mídia fez um pacto com o fornecedor das imagens, delegado PF Edmilson Bruno, para não identificá-lo como tal. Até aí, tudo bem. Mas nenhum jornal, revista ou emissora contou o que ele disse aos repórteres na hora de entregar o material – e o comando da campanha de Lula tem razão em cobrar a divulgação de suas palavras, seja lá quais tenham sido.
Se for verdade que ele falou o que lhe atribuiu ontem neste blog o leitor Léo Bueno, de Santo André, a carga política do episódio é explosiva. ‘Segundo os petistas’, escreveu Bueno, que se identifica como jornalista, o delegado teria dito: ‘Estou fazendo isso para f…o governo e o Lula’.
De novo, se for verdade, é inconcebível que isso não tenha sido dado ao conhecimento do leitor, junto com as fotos. E ampara a hipótese de que Bruno pode não ter agido sozinho na história.
A sua entrevista ao Jornal Nacional de ontem mostrou um personagem inconvincente. A sua credibilidade tende a zero quando tenta explicar o seu ato. O JN e, hoje, os diários, registram que cada vez ele dá uma versão diferente para o vazamento.
Mas entrevistar e tornar a entrevistar o delegado, chamando a atenção para as inconsistências de suas explicações é muito pouco perto perto do que a mídia já precisaria ter feito.
E chega a ser patético quando um repórter pergunta ao vazador se foi pago para fazer e distribuir as fotos. Queria o quê? Que ele respondesse ‘sim’?
O ‘jornalismo declaratório’, como gosta de dizer o observador Alberto Dines, só faria sentido agora se servisse de ponto de partida para se buscar conferir as declarações com os fatos ainda na sombra. E não vale objetar que a Polícia Federal é uma fortaleza de silêncio. Ela pode ser qualquer coisa, menos isso. O que saiu da PF ‘em off’ durante o inquérito sobre a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo foi uma enormidade.
Em todas as organizações, sempre há alguém com motivos – nobres ou não, pouco importa – para assoprar coisas aos ouvidos de jornalistas que se comprometam a respeitar o sigilo da fonte. Na Polícia Federal, especificamente, decerto haverá quem saiba algo, ou muito, sobre os prováveis segredos de Edimilson. E existem repórteres que conhecem bastante bem a instituição para achar ali o caminho das pedras até a verdade que a mídia deve ao público – a esta altura, já com juros e multa.
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