Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

CartaCapital aponta opção dos donos da Veja pelo PSDB. Esculacho não é privilégio da maior revista do país

A revista Veja desta semana recorre a Rui Barbosa para explicar-se porque lhe imprimem o “cantochão” de ser “parcial”, e desmente críticas que lhe são imputadas por não apenas noticiar, mas esculhambar quem lhe desagrade. Na defensiva, depois de negar ser antipetista ou pró-tucana, a ‘Carta ao leitor’ diz que a revista “é simplesmente a favor do Brasil”.

Trata-de de uma meia-verdade ou meia-mentira – como queira escolher o espírito crítico do leitor. O desmentido à declaração de isenção da revista encontra-se na seção “A Semana”, da concorrente CartaCapital, assinada por seu diretor, Mino Carta.

Diz a Carta ao leitor de Veja:

‘(…) Há quem o entoe (o cantochão da parcialidade) agora, por causa da cobertura extensa e aprofundada que a revista faz dos escândalos que colocam em xeque o governo Lula. Como se fatos sobejamente provados fossem um diz-que-diz inconseqüente. Como se VEJA fosse antipetista. Nada mais longe da verdade. A revista não é, nem nunca foi, inimiga de forças políticas. Não era anti-Collor quando denunciou o esquema do tesoureiro PC Farias; não era antitucana nos momentos em que o governo Fernando Henrique Cardoso foi maculado por esquemas de corrupção. VEJA não é inimiga de certos partidos nem amiga de outros. A revista é, simplesmente, a favor do Brasil.”

Diz A Semana, de CartaCapital:

“(…) Há quem diga que FHC é mestre da manobra florentina. Chegou, porém, a vez do escorregão, ninguém é perfeito. Ao dizer que “a crise é agora, o resto é história”, entregou-se. Triste história de corrupção desenfreada e crescente, e nela cabe papel destacado à tucanagem, a despeito de seu exibicionismo emplumado. “Até em episódios menores, detalhes miúdos, e assim mesmo representativos. O TSE informa quem quiser que a Editora Abril, dona da revista Veja, fez doações para candidatos tucanos no pleito de 2002. O atual líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, recebeu R$ 34,9 mil, enquanto Aloysio Nunes, deputado licenciado e ex-ministro da Justiça no governo FHC, contava com doação abriliana de R$ 15,8 mil.

“Doações contidas, é certo, em um país onde os donos do poder proclamam grandeza em centenas de milhões de dólares e metade da população vive na miséria. E, também, doações legais. É evidente, entretanto, o conflito de interesses.

“Goldman foi relator da Lei Geral de Telecomunicações durante o governo tucano, quando a Abril tinha um endividamento líquido de R$ 699,5 milhões. Graças à mudança na Constituição, a editora de Veja conseguiu associar-se a empresas de capital privado da Capital International Inc., e reduzir sua dívida em 13,8%.”

O desmentido da “verdade” apregoada pela Veja, foi escrito por Mino Carta antes da revista garantir imparcialidade, pois CartaCapital fecha antes da concorrente. Há que se registrar, ainda, que Mino Carta curte uma longeva repulsa por seus antigos patrões, desde 1976, ano em que a família Civita cedeu à pressão do regime militar – e forçou sua demissão da direção da revista semanal mais vendida do país. Mas, assim como Veja acaricia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como o faz na edição desta semana, por exemplo, ao resumir que os escândalos ocorridos durante seu governo são uma “mácula” –, CartaCapital também não esconde sua preferência pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com a mesma intensidade em que rechaça o presidente anterior. Ambas, enfim, escorregam para o achincalhe quando se trata de defender posições políticas.

Veja, até pelos recursos mais elevados de que dispõe, tem muito mais munição para gastar – e muito mais baixaria para imprimir. Um dos exemplos mais recentes é a reportagem de capa desta semana apresentando o deputado José Dirceu como “risco” para o presidente da República. O ex-ministro, disse, não estaria disposto a continuar preservando Lula do escândalo – e seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ocorrido ontem, constituía uma ameaça ao presidente. O que se viu foi o oposto, inclusive com desmentido formal do estado de espírito que a revista lhe atribuiu.

A reportagem sobre a suspeita de envolvimento de Roberto Marques na lavanderia do publicitário Marcos Valério e do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, é outro exemplo – talvez o mais claro de como uma suspeita é trabalhada na redação para se transformar em denúncia explosiva. Primeiro, no índice, a revista mantém a sobriedade e anuncia a reportagem dizendo “Ajudante de Dirceu estava autorizado a sacar no Rural”. Na reportagem propriamente dita, perde o equilíbrio com o título ‘Aonde Dirceu vai… …Bob vai atrás’. No texto-legenda da foto, descamba de vez: “DÚVIDA. O que será que o ajudante Bob Marques carregava na mala da foto? Documentos, autorizações de saque, fotos de Fidel Castro, as cuecas de José Dirceu? Os dois, segundo Bob, são amigos há mais de vinte anos”.

Não é preciso ler a reportagem para se concluir que José Dirceu e Roberto Marques são dois safardanas. Se a revista tivesse mantido a mesma sobriedade do índice, com certeza seria mais convincente. Mais: ao tratar a gravidade da suspeita como pilhéria, perde o respeito.

CartaCapital, na edição de 15 de julho, não ficou atrás no quesito baixaria: escolheu o pior dos piores momentos da ex-secretária do publicitário Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, para mostrá-la depondo na CPMI dos Correios.




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Ao se deparar com a imagem malconformada da ex-secretária na CartaCapital, tem- se também a constatação de que ela descobriu como usar a imprensa do celebrismo para se autopromover. A assistente de Valério ganha a capa da Revista da Folha do último domingo com o apodo de “musa da inconfidência”. Em questão, uma contradição fundamental trazida pelo escândalo e suas celebridades: Karina foi ou não foi convidada para posar nua? A Revista da Folha adianta que ela ‘gosta de fazer uma pose”, mas a revista desmente o convite para mostrá-la desprovida de qualquer adereço. “O cachê de R$ 2 milhões, que, segundo seu advogado, ela pediria pelo trabalho de ‘nu artístico’, também faz parte dessa busca por um país mais justo: o dinheiro será usado para custear as despesas de campanha, diz ela. Mas não só, claro”, acrescenta a Revista da Folha, junto com as fotos da ex-secretária que não escondem o denodado esforço do fotógrafo João Castilho.



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