Na edição da semana passada da Veja, Diogo Mainardi, além de ter dado crédito ao relato de “uma assessora parlamentar” segundo o qual o ex-doleiro Toninho da Barcelona estaria sendo “sistematicamente violentado” na prisão – fato contestado pelo secretário da Administração Penitenciária paulista, Nagashi Furukawa, e por um dos advogados do preso, Ricardo Sayeg – (ver “Sem compromisso com os fatos”, no programa de rádio 112), pôs na boca do deputado José Eduardo Martins Cardozo, do PT paulista, uma estranhíssima declaração segundo a qual o Congresso Nacional “tem nordestinos demais”. Cardozo contesta o texto de Mainardi. Diz que conversou com ele, mas registra: “(….) não fiz nenhuma referência aos deputados do Nordeste, até porque não se concentram nessa região do país as maiores distorções na proporcionalidade”.
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Outro que desmente a Veja é o coronel da reserva da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública. Suas palavras na famosa reportagem de capa da revista em defesa do “não” no referendo dava a entender que ele é contra a proibição da venda de armas, portanto adepto do “não”, quando é adepto do “sim”, fato que havia sido reportado corretamente pela Época.
A leitora Paula Miraglia, encabeçando mais nove assinaturas, critica o uso caricato, na capa da revista, do símbolo do Instituto Sou da Paz – mãos imitando as asas de uma pomba. Ela pergunta “qual a necessidade de agredir e desmoralizar uma instituição para defender uma idéia”. Tudo indica que cabe dentro do mesmo tom que levou a revista, para defender um ponto de vista respeitável – o referendo está longe de ser o melhor caminho para discutir o tema da segurança pública -, a usar argumentos truculentos e a ignorar os pontos de vista dos partidários do referendo e do “sim”.
Na Carta ao leitor, a Veja comemora a vitória do ‘não’ entre os leitores que trataram do assunto, por 52% (1.361) a 32% (736). Esse tipo de validação pela manifestação do leitorado não costuma dar muito certo. Enfim, a escolha é da Veja, e ninguém tasca. Na seção de Cartas a revista publica dez cartas partidárias do ‘não’ e sete do ‘sim’, mantendo um equilíbrio numérico. Seria curioso conhecer o teor das cartas não publicadas pelos dois grupos de opinião.
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O repórter Jotabê Medeiros, do Estadão, esclarece, a propósito da reportagem que denunciou a distribuição de iPods com o novo CD da cantora Maria Rita, pela gravadora Warner: devolveu o aparelhinho tão prontamente quanto possível. E critica: “A reportagem de Veja não respeitou um princípio básico do jornalismo: ouvir o outro lado”.
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O secretário particular do presidente Lula, Gilberto Carvalho, também contesta reportagem baseada em declarações do juiz José Carlos da Rocha Mattos, condenado por venda de sentenças judiciais (Carvalho escreveu “por venda ilegal de sentenças judiciais”, mas não dá para imaginar o que seria a venda legal de sentenças judiciais). Escreve na linha “ninguém tem provas”: “As fitas a que se refere o juiz-presidiário já foram objeto de reiteradas publicações, sem que nada pudesse me incriminar”. E avisa que está tomando medidas judiciais contra calúnias de que se considera vítima. De fato, as fitas que o juiz teria ouvido – depois desaparecidas – não acrescentam nada de consistente ao que já se sabe. Nem diminuem a opacidade do que ainda não se sabe.