A maratona musical organizada na sexta-feira (22/1) pelo ator George Clooney para ajudar o Haiti mostrou uma radical mudança de comportamento das estrelas do showbiz mundial e no formato tradicional de eventos desta natureza.
A primeira grande surpresa para quem assistiu ao espetáculo foi o quase anonimato das personalidades que participaram do show transmitido ao vivo de Los Angeles, Nova York e Porto Príncipe, no Haiti. E a segunda, talvez mais relevante, foi a mensagem transmitida pelo evento. Em vez do tradicional apelo à caridade, o slogan adotado foi: “Esperança para o Haiti, agora”.
Muita gente ficou intrigada porque nenhuma celebridade foi identificada. O protagonismo estelar cedeu lugar à leitura de textos sobre a tenacidade e perseverança do povo haitiano — antes, durante e depois do terremoto.
Foi surpreendente ver a atriz Julia Roberts contar o drama de uma mãe que cavou durante quase 50 horas com as próprias mãos para resgatar, com vida, o filho soterrado em escombros. E o badalado diretor de cinema Steven Spielberg atendendo telefones para receber doações junto com outras tantas figuras carimbadas de Hollywood. Até os badaladíssimos Bono e Madonna cantaram sem ser identificados.
As dimensões do drama haitiano levaram os profissionais da caridade a mudar o tom. Clooney já havia organizado antes um megaevento de apoio às vitimas do ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. E quem viu os dois shows não teve dúvidas sobre a mudança de enfoque. O personalismo e o apelo fácil às lágrimas foram substituídos pela preocupação em mostrar o outro lado do povo haitiano.
Enquanto os noticiários de jornais e da televisão destacam a selvageria e msiéria nas ruas de Porto Príncipe, as histórias contadas pelas personalidades batiam na tecla do heroísmo, tenacidade e história do Haiti.
Evidentemente o show de sexta-feira deve ser visto no contexto da preocupação em servir como com um antídoto na mídia à presença de 16 mil soldados norte-americanos no Haiti, que está virtualmente sob controle militar do Pentágono. Todo este envolvimento tem a ver também com a tentativa de prevenir um provável êxodo em massa de haitianos para os Estados Unidos, em busca de sobrevivência econômica.
O slogan do evento marcou mais uma convocação do que um pedido. Em vez de dinheiro, as personalidades pediam que os norte-americanos apoiassem a esperança dos haitianos na reconstrução do país e das vidas destroçadas pelo terremoto. Pode não ser grande coisa, mas pelo menos quebrou a rotina da abordagem catastrofista da maioria da imprensa mundial.