Após episódios como o da violência terrorista do PCC no fim de semana de 13 de maio as revistas semanais readquirem clareza sobre seu potencial.
Das quatro mais importantes do Brasil, a Veja decidiu restringir o material informativo sobre o ataque do chamado crime organizado e concentrar-se na apresentação de propostas de soluções. Um pouco na linha simplificatória do “temos a solução do problema”.
IstoÉ e Carta Capital produziram sínteses ágeis e bem-informadas. Mas a Época se saiu melhor, bem melhor. São trinta páginas de material compacto. Um levantamento que supera a edição extra de Caros Amigos já comentada aqui.
O que ninguém fez foi avaliar a relação da mídia com tudo isso.
[Nota em 26/5: a Época trata da participação da mídia na propagação de boatos no dia do medo em São Paulo. ‘Na ânsia de informar a população a mídia também contribuiu para o pânico. Uma repórter da TV Record chegou a dizer que haveria toque de recolher na cidade às 20 horas. (….) Na Rede TV, um repórter afirmava: ´Tensão em São Paulo. O PCC avisa que o próximo alvo são os moradores do Morumbi, um dos bairros mais nobres de São Paulo´. Era boato‘.]
Dois textos, não por acaso de colunistas – ou seja, de pessoas sem compromisso com a produção diária de notícias –, fazem advertências.
Um é de Luiz Gonzaga Belluzzo na Carta Capital (‘Os custos da ignorância’, edição de 24/5):
“A mídia multiplica as tensões e ´esquenta´ o assunto. Informa e comenta com a profundidade da poça d´água e a duração das bolhas de sabão. Nas incursões dos pistoleiros midiáticos, os indivíduos podem saber de tudo, mas não devem compreender nada”.
Entende-se o que Belluzzo quis dizer, o fenômeno é reconhecível, mas teria sido útil que ele desse exemplos.
No Globo (20/5), Zuenir Ventura pergunta: “E a mídia nisso tudo?”. Zuenir foi testemunha de fatos muito graves:
“Historicamente, sabe-se o quanto os jornais contribuíram para a glamourização de criminosos e para a promoção involuntária de seus crimes. Durante décadas, vigorou no Rio uma prática em que a banda podre da polícia manipulava repórteres para ´mineirar´ (extorquir) bandidos. Pautava um criminoso como ´o mais perigoso da cidade´ e, quando ele chegava às primeiras páginas, prendia-o em segredo e soltava-o mediante pagamento. Quanto mais famoso, maior o valor da extorsão.
“Hoje, isso não existe como norma. Mas até que ponto, sem querer, não participamos da mitificação de bandidos?”
No final de seu texto, Zuenir relata que há dois anos o Globo cessou de chamar pelos nomes as facções criminosas. Não apresenta elementos para comprovar a eficácia dessa prática. Mas argumenta que “nem por isso a liberdade de informar sentiu-se prejudicada”.
Ironicamente, na coluna ao lado Reinaldo Azevedo não só chama pelo nome o PCC, mas usa o nome de seu suposto chefe no título, numa enésima tentativa de ser espirituoso: “Marcola, ecce homo”.