Não é todo dia que se lê na imprensa o que escreve hoje na Folha o colunista Demétrio Magnoli.
Primeiro porque raríssimos são os colaboradores de um períodico a criticar o próprio, nas suas próprias páginas.
Segundo porque ele chama a atenção para uma situação que vai de mal a pior no setor da comunicação e que pode ser resumida numa palavra:
Macjornalismo.
Consiste não só na padronização de forma e conteúdo na mídia impressa, mas principalmente na criação de um produto feito para ser consumido o mais depressa possível, partindo da premissa de que de outro modo perderá consumidores.
Com isso a indústria da informação corre o risco de afundar cada vez mais na crise da qual pretende sair recorrendo ao macjornalismo, à tabloidização – no pior sentido do termo – e ao infotainment, como dizem os americanos para designar a simbiose entre informação e entretimento.
Mas afinal o que escreveu Magnoli?
Ao seu primeiro artigo depois da mudança gráfica da Folha – a sua coluna semanal sai às quintas – ele acrescentou este P.S.:
”Por conta da reforma gráfica, essa coluna perdeu quase um quinto do seu espaço. De que serve opinião sem fato ou contexto histórico?”
Vejam bem. Ele não está chutando o balde porque gosta de ouvir o som das suas próprias tecladas e ficou amuado ao saber que lhe subtraíram duas de cada 10 palavras que costumava teclar para saírem na página 2 da Folha.
Ele pôs o dedo na ferida em um dos principais males do que passa nos jornais e revistas de hoje por jornalismo de idéias – o encolhimento do espaço para comunicá-las de modo a fazerem sentido para o público.
No fundo, ao perguntar de que serve opinião sem fato ou contexto histórico, o geógrafo Magnoli dá uma demonstração de respeito pela inteligência alheia.
Presume – e tomara que tenha razão – que o leitor não se dá por satisfeito com o achismo a que acabam reduzidas as opiniões publicadas, quando quem as emite não tem o espaço minimamente necessário para calça-las em fatos e contexto histórico.
Que maravilha seria se os publishers e editores de diários e semanários tivessem pelos seus leitores o mesmo apreço que o professor Demétrio acaba de demonstrar.
P.S.
A professora Renata Silva, de Belo Horizonte, lembra [ver comentários] que Demétrio Magnoli não foi o primeiro a criticar, na Folha, o novo padrão gráfico do jornal. Ele foi antecedido pelo colunista Janio de Freitas.
O texto de Janio tinha me escapado.
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