Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cineasta espinafra a Folha: ‘Jornalismo da pior espécie’; jornal se cala


Numa das raras vezes em que não responde com pouca educação ou justificativa pelo erro cometido, o ‘Painel do Leitor’ da Folha de S.Paulo de ontem trouxe o indignado protesto do cineasta Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’). A sorte de Meirelles foi ter respondido por e-mail – sua resposta, portanto, foi documentada. Ao contrário da maioria das vezes em que o jornal é contestado, desta vez não houve respostas mal-educadas nem atribuições a terceiros. O jornal poderia ter pedido desculpas pelo enorme equívoco. Mas isso não faz parte do manual de bons modos da imprensa brasileira.



A espinafrada do cineasta no jornal foi a seguinte:



Tenho uma forte reclamação a respeito da Folha. Questionado por e-mail, na sexta-feira, sobre minha opinião sobre um possível impedimento para o presidente Lula, escrevi uma resposta curta, mas claramente contrária à idéia. Chamei esse debate de oportunista e disse que cabe às urnas julgar Lula no ano que vem. Não havia margem para dúvida.



A Redação, no entanto, conseguiu separar duas palavras da primeira linha da minha resposta e publicou apenas: ‘O cineasta Fernando Meirelles, por sua vez, acredita que existam ‘razões de sobra’ para iniciar o debate’. Com isso, inverteu completamente o sentido do que havia sido dito. Jornalismo da pior espécie.

Começo a achar que pode haver mesmo um certo golpismo da oposição com o apoio da imprensa, interessada em criar climas para vender jornal. Eis as perguntas seguidas das respostas que mandei ao jornal.



Pergunta: O senhor acredita que haja razões para abrir impeachment do presidente Lula?


Resposta: Há razões de sobra, mas, como todos nós sabemos, nos últimos 30 anos, pouquíssimos políticos foram eleitos com verbas declaradas corretamente. Só que ninguém nunca foi punido por isso. Portanto, se houver o impeachment neste caso, serei forçado a concordar com Lula: terá sido mesmo um complô das ‘elites’.



Pergunta: O senhor acredita que haja condições políticas para isso?
Resposta: O oportunismo e o interesse político dos adversários podem criar as condições para isso. Mas de um processo de impeachment é tudo o que o país não precisa agora. Há outras medidas a serem tomadas. Vamos brincar de democracia e deixar que as urnas decidam esta questão no ano quem vem, mas já com novas regras de financiamento de campanha.