Friday, 03 de January de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 25 - nº 1319

Cobertura eleitoral : o efeito corrida de cavalos

Estamos chegando perto de mais uma eleição presidencial e pelo andar da carruagem parece que, mais uma vez, a campanha será marcada pelo conhecido efeito corrida de cavalos, onde o importante é estar na frente, não importa a que custo.


 


Os candidatos e partidos, é claro, só pensam em ganhar porque se deixaram contaminar pela necessidade de assegurar empregos para seguidores, durante mais quatro anos. A era dos grandes projetos já passou, agora predomina o imediatismo.


 


Criou-se assim um círculo vicioso no qual os políticos se comportam como jóqueis, os jornalistas como locutores e comentaristas da corrida e os cabos eleitorais como apostadores. O prêmio da aposta é um cargo público.


 


Tudo isto já é uma rotina na política tupiniquim. O que poderia introduzir um elemento novo no processo eleitoral é uma mudança de atitude da imprensa. Se ela aceitar o jogo da corrida de cavalos na campanha eleitoral, estará apenas oferecendo mais do mesmo a um público que já está cético com relação à política e à mídia.


 


Os políticos dificilmente vão mudar, porque a única coisa que os fará rever estratégias é o veredicto das urnas, e isto só acontecerá depois das eleições. A imprensa não tem nada a perder se resolver mudar seu comportamento na cobertura da campanha dando mais importância ao público do que ao jóquei (ou cavalo) que está liderando a corrida.


 


A imprensa não será esnobada pelos políticos porque eles precisam dos meios de comunicação, mesmo torcendo o nariz. Por outro lado, apostando numa mudança, os jornais, rádios, emissoras de televisão e os portais informativos na web correm o sério risco de reconquistar parte da audiência perdida para a apatia política.


 


Nos anos 1970, fenômeno idêntico aconteceu nos Estados Unidos, quando vários jornais decidiram quebrar a rotina das coberturas estilo corrida de cavalos para lançar o que, na época, foi batizado de jornalismo cívico. Era uma coisa bem simples. Alguns jornais e emissoras de rádio de cidades afetadas por tensões raciais resolveram promover assembléias comunitárias, em que as pessoas discutiam com candidatos. Os jornalistas serviam de mediadores.


 


Além disso, os jornais que aderiram à linha cívica passaram a dar prioridade às reportagens e notícias envolvendo questões levantadas pelo público, cobrando reações dos candidatos. A idéia chegou a contaminar alguns jornais influentes da costa leste dos Estados Unidos e recebeu uma considerável ajuda financeira do Centro Pew, uma das maiores fundações norte-americanas envolvidas com projetos jornalísticos.


 


Na época, o esforço não deu certo porque, ainda durante a campanha eleitoral, os grandes jornais hostilizaram a iniciativa alegando que ela ia contra o princípio da isenção dos jornais e jornalistas em matéria eleitoral. Os promotores da idéia do jornalismo cívico também superestimaram os efeitos da proposta, esperando que, em menos de um ano, fossem alterados rotinas, comportamentos e valores entranhados havia décadas nas redações, nas comunidades e entre os partidos políticos.


 


A menção que faço à iniciativa do jornalismo cívico não é para transplantá-la para nossa realidade, mas simplesmente para mostrar que existem outras possibilidades para a cobertura jornalística de eleições, além de narrar uma corrida entre candidatos e siglas.


 


Trinta anos depois, as condições são bem diferentes. A grande imprensa já não é mais tão forte quanto antes, surgiram outros canais de comunicação de permitem mais interatividade entre os eleitores e o público está ainda mais cético do que nos anos 1970 com relação aos políticos e partidos.


 

Não há receitas prontas, apenas possibilidades. O único grande erro a ser evitado é esperar mudanças instantâneas, do tipo daquelas mensuráveis por pesquisas pré-eleitorais. Hábitos tão antigos não mudam da noite para o dia, isto todos sabemos. Mas quem não arrisca, não tem nunca a chance de acertar, principalmente no jornalismo.