Quem diz isto é nada mais nada menos que o professor Philip Meyer, autor do livro Os Jornais Podem Desaparecer? , num artigo que acaba de sair publicado na American Journalism Review no qual ele revisa as previsões feitas sobre o fim da imprensa escrita e faz uma autocrítica sobre a análise que fez da internet.
Meyer, hoje com 80 anos, admite que sua previsão de que o último jornal impresso nos Estados Unidos circularia em abril de 2043 foi feita com base numa projeção matemática e que na realidade o fim poderia ser antecipado, caso seja mantida a atual tendência de queda nas tiragens e na receita de publicidade.
Mas o velho professor, considerado um ícone da pesquisa jornalística no seu país, acha que não se trata de uma morte inevitável e recomenda que os executivos de jornais, mais do que nunca, estudem a internet para identificar em que áreas a informação impressa tem mais condições de sobreviver à avalancha informativa na internet.
“Eu ainda credito que o mais importante produto de um jornal, o produto menos vulnerável à substituição (pela internet) é a presença comunitária. É onde o jornal ganha toda a sua credibilidade ao produzir localmente noticias, análises e jornalismo investigativo sobre questões de interesse público”, diz Phil Meyer no artigo.
Ele também desmente a afirmação de que a democracia estará ameaçada pela crise no modelo de negócios dos jornais, lembrando a velha teoria das duas etapas, desenvolvida em 1940 pelo sociólogo Paul Lazarfeld segundo a qual a mensagem dos líderes e opinião chega ao publico de duas maneiras: em conversas com amigos e por meio de leituras na imprensa. “A internet criou um sistema de múltiplas etapas e o problema agora não é mais de fluxo, mas sim de credibilidade” diz.
A presença comunitária dos jornais, depois de ser menosprezada durante várias décadas, é hoje considerada uma questão estratégica e que de alguma forma ressuscita a proposta de jornalismo cívico, lançada nos primeiros anos da década de 90 pelo professor Jay Rosen, hoje diretor da escola de jornalismo da Universidade de Nova Iorque, e pelo Pew Center for the People and the Press.
A idéia, que na época provocou uma apaixonada polêmica na imprensa norte-americana, partia do princípio de que os jornais e os jornalistas não são meros observadores do que acontece na sociedade, mas devem envolver-se nas questões comunitárias.
A estratégia comunitária pode ser uma opção viável para os jornais impressos caso eles, além de mudarem a postura, também alterarem o foco editorial que ainda hoje está fortemente influenciado pela cobertura de escândalos, crimes, violência, sexo, corrupção e manipulação política nas questões locais.