Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Colapress’ na modernidade II

Faltou dizer… como escrevia Aloysio Biondi, faltou dizer, no tópico "Colapress", que os jornais também copiam furiosamente os serviços online. Essa foi uma advertência que recebi há pouco de uma leitora.

Trata-se de uma discussão que envolve mais diretamente jornalistas. Mas, como se sabe, as fronteiras entre "o público" e "os jornalistas" estão em adiantado processo de diluição, para o bem (democratização da produção, da distribuição e da recepção crítica de informações) e para o mal (proliferação de informações sem padrões mínimos de verificação, partidarização, ideologização).

Entre as práticas condenáveis apontadas pela leitora estão publicar nos jornais resumos do que sai durante o dia na internet e reforçar reportagens com informações tiradas do online, sem dar o devido crédito. Na visão da leitora, ao criticar o trabalho dos serviços online as redações de jornais impressos se sentem mais à vontade para fazer a mesma coisa no sentido inverso. Isso fica patente quando se constata que uma linha de apuração surgida na internet, antes ignorada pelos impressos, é incorporada ao noticiário desses. Leitores atentos – e o leitor coletivo é atentíssimo – percebem essas coisas.

Talvez seja necessário ocorrer um grande escândalo para que tais métodos sejam refreados.

Alguns anos atrás, uma jovem propagou por correio eletrônico o boato de que o PCC havia roubado dinamite de uma pedreira no interior de São Paulo para explodir um shopping na capital. A notícia foi espalhada por pessoas que tinham a melhor das intenções: salvar vidas, no limite. Os jornais não deram curso ao boato, inteiramente infundado. Só servia para fazer o jogo do PCC. Eu recebi a mensagem de um amigo e lhe perguntei: mas você, antes de passar isso adiante, consultou a Polícia? É claro que ele não o tinha feito. Resumo: a jovem foi processada. Como não era emancipada, seu pai foi o alvo da ação judicial. Tanto quanto eu saiba, não houve condenação, mas a simples notícia do procedimento parece ter servido como "antivírus". Teve o mesmo efeito de uma campanha de vacinação em massa, ou campanha educativa.

Quem sabe o primeiro escândalo de "copy and paste" possa produzir efeito semelhante?

Uma discussão em paralelo é sobre a qualificação das equipes que fazem jornais impressos e online. Existe a percepção – até prova em contrária, é a minha – de que as equipes dos impressos são melhores, embora não se possa generalizar. Nada disso foi estudado com um mínimo de sistematicidade, tanto quanto eu saiba. A leitora me diz que não. Que as redações dos jornais são apenas maiores e trabalham com um tempo de produção diferente. Levam um dia inteiro para produzir algo que os jornalistas do online escrevem em meia hora. E não contemporiza: se essas equipes fossem melhores não fariam jornais tão ruins, com notícias velhas.

O público, adverte com propriedade a leitora, não quer saber de onde vem a notícia. Quer que ela venha logo e seja produzida com a máxima qualidade possível. É isso aí. Vale para todas as mídias.