Um mês de ausência do Brasil faz ver que, na volta ao país, o cerco do crime organizado ao estado, em São Paulo, é o grande acontecimento que diferencia os jornais de hoje aos de 30 dias atrás.
O tema das manchetes dos principais jornais de São Paulo é a demissão de Nagashi Furukawa, até ontem responsável pelos presídios paulistas. A preocupação principal de ambos, infelizmente, está centrada nas críticas que o secretário demitido destilou contra o secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, na despedida do cargo. ‘Não há vencidos nem vencedores nessa história’, diz Furukawa em uma das reportagens da boa cobertura da Folha de S.Paulo de hoje. ‘Há uma dificuldade de entendimento entre a minha pessoa e o secretário. Não por culpa dele, e, creio, não por culpa minha’.
O repórter, não identificado pelo jornal, insiste: ‘E quais foram suas discordâncias com Saulo?’. Furukawa mostra uma das pedras do caminho: ‘Não houve uma investigação forte da Polícia Federal na Penitenciária 2, de Presidente Venceslau, onde foram separados os líderes do PCC (Partido do Comando da Capital). Espero que agora se consiga uma sintonia nas ações. Mas não quero partir para o campo das críticas’, tergiversou, inutilmente, tentando abrandar graves omissões do aparato policial, como indica, ao resumir a omissão policial à ‘falta de sintonia’ em um dos principais presídios de segurança máxima do Brasil.
O noticiário mostra também preocupação em confirmar se houve ou não uma negociação de trégua com um dos chefes do crime organizado paulista, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Mais de uma reportagem, tanto da Folha quanto do O Estado de S.Paulo, insiste no abrandamento do cerco da bandidagem à sociedade civil: Houve negociação? Houve acordo? Se houve negociação, e, por meio dela, a volta da paz aparente, por quê a insistência em esclarecer se houve acordo ou não? A lógica dos acontecimentos já não é suficientemente clara para confirmar que houve, sim, acordo ?
‘É evidente que houve negociação. O que não houve foi acordo. O estado não cedeu’, repetiu (e repetirá sempre) Furukawa, pois não tem outra resposta a dar. Qualquer coisa que diga diferente disso, estaria chancelando a falência do sistema e a impressão generalizada de que o crime organizado permitiu que ele estivesse no cargo durante que ocupou nos últimos seis anos e cinco meses.
No pé da resposta à segunda pergunta da entrevista que concedeu à Folha de S.Paulo, Furukawa, no entanto, chama a atenção. ‘A mídia está discutindo a coisa errada’, alerta. O repórter insiste: ‘Qual é, então, a discussão correta?’. Furukawa responde, com outra pista que pode ser valiosa para a sociedade civil, caso a imprensa empenhe-se realmente em apurar: ‘A preocupação que atinge as pessoas é discutir como a crise terminou, e não as suas causas, que é o mais importante neste momento’.
O repórter, infelizmente, não pergunta quais seriam as causas – e opta pela ‘queda de braço’ da qual Furukawa saiu derrotado na disputa com o secretário da Segurança. Mais uma vez, venceu a preocupação com egos em conflito, em detrimento de informações mais precisas que poderia ajudar a sociedade civil a compreender o que houve e quem, de fato, manda no aparelho de segurança pública: o bandido ou a polícia?