O jornal norte-americano The New York Times desativou esta semana o seu serviço Times Select, pondo fim a uma experiência de dois anos de cobrança pelo acesso às versões online de artigos de sua equipe de colunistas. Logo em seguida, dois outros ícones da imprensa mundial admitiram que estão estudando, também, o fim o acesso pago nas suas versões na internet.
O velho debate sobre a gratuidade dos jornais online está chegando a um desfecho determinado por questões eminentemente práticas, mas deixa no ar uma questão que ainda provoca curto circuitos na cabeça de donos de jornais e especialistas em imprensa: o da gratuidade da notícia.
O The New York Times investiu US$ 10 milhões no Times Select e resolveu jogar a toalha depois que ter conseguido apenas 227 mil assinantes pagos (outros 887 mil ganharam assinaturas grátis). Pior do que isto, foi a insatisfação dos colunistas que ficaram por trás do muro da cobrança e que perderam milhares de leitores ao redor do mundo.
O blogueiro e consultor de Web Jeff Darvis admitiu que deixou de ser um leitor habitual de estrelas do colunismo como Thomas Friedman e Maureen Dowd porque não assinou o Times Select e acabou descobrindo que ambos não faziam tanta falta assim.
A grande maioria dos demais jornais na Web não cobra nada pelo acesso ou exige apenas cadastramento do leitor. Aqui no Brasil, a Folha de S.Paulo e O Globo cobram acesso ao seu conteudo online, enquanto O Estado de S.Paulo limita a quantidade de notícias publicadas na Web.
O balanço financeiro da experiência do Times Select ainda não é conhecido, mas os jornais The Wall Street Journal (norte-americano) e Financial Times (inglês) já admitiram formalmente que podem deixar de cobrar acesso à suas versões online. Os jornais econômicos oferecem um conteúdo especializado e não enfrentaram grandes resistências da clientela formada por empresários e corporações na hora de pagar a conta.
Se até eles estão dispostos a aderir à gratuidade é que porque o buraco é mais embaixo. A verdadeira questão é a facilidade de opções na Web. Usando um mecanismo de buscas o leitor pode facilmente obter gratuitamente a mesma informação que alguns jornais cobram. Este é talvez o grande argumento por trás da meia volta dos grandes jornais em matéria de assinatura online paga.
A mesma linha de raciocínio vale para as versões em papel. Por que vou comprar um jornal impresso se posso ter o mesmo conteúdo na Web, sem pagar nada? É claro que isto não é uma sentença de morte dos jornais impressos, mas as suas tiragens cairão, ainda mais, se eles não buscarem novos nichos informativos.
Isto comprova uma possibilidade levantada desde o início da avalancha informativa na Web sobre a transformação da notícia num bem público. Depois de ser um produto — ou, como dizem os economistas, uma commodity com preço variável — a notícia perde valor monetário e ganha relevância social.
As implicações desta mudança ainda não foram exaustivamente estudadas pelos teóricos da comunicação, mas os jornais, rádios, emissoras de TV e revistas já começaram a sentir os seus efeitos práticos. A imprensa está vendo a sua principal matéria-prima perder valor, o que muda a natureza do seu negócio.
Os jornais não terão outra alternativa senão trocar o noticiário de atualidade pelas reportagens investigativas e textos analíticos, se quiserem sobreviver.
Conversa com o leitor
A primeira versão do post continha um erro. Originalmente foi publicada a frase: ‘a Folha de S.Paulo é o único dos três grandes jornais nacionais a cobrar acesso online para o noticiário completo’. A informação estava incorreta e foi substituida pela versão atual.