Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“Conversas impossíveis” se multiplicam nos blogs e redes sociais

No dia 27 de outubro aconteceram 5.296 contatos online entre palestinos e israelenses, 7.965 mil diálogos entre sérvios e albaneses, 7.231 conversas entre indianos e paquistaneses e 14.586 mensagens trocadas entre gregos e turcos, dois povos que vivem às turras desde 1922.


 


É o que registrou a página Peace on Facebook, organizada pela rede social Facebook em pareceria com o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) para promover na internet contatos bilaterais apartidários entre protagonistas de conflitos políticos, religiosos e étnicos ao redor do mundo.


 


Os diálogos em curso na página Peace On Facebook acontecem numa rede social que tem cerca de 300 milhões de usuários em todo o planeta e podem ser acompanhados por qualquer pessoa. Além dos conflitos mencionados no primeiro parágrafo, o site registra ainda os contatos entre os seguidores de duas vertentes antagônicas do islamismo, os sunitas e xiitas, entre católicos e protestantes na Irlanda e até entre adversários políticos como os democratas e republicanos, nos Estados Unidos.


 


Cada uma destas situações de conflito é monitorada a partir de mensagens deixadas em páginas da rede Facebook. O projeto monta um gráfico da evolução diária dos contatos em cada conflito ao mesmo tempo em que promove uma pesquisa, também diária, sobre as expectativas de paz no mundo, com consultas a 500 usuários da rede social em 12 países diferentes.


 


A pesquisa sobre expectativa de paz mostrou que os norte-americanos são os mais pessimistas, pois só 8,5%  acreditam na possibilidade de todas as guerras serem eliminadas dentro dos próximos 50 anos. Os mais otimistas, acredite quem quiser, são os e os israelenses (29,3%) e os colombianos (39%).


 


Os diálogos impossíveis também acontecem na blogofera, o universo virtual dos weblogs, como mostrou Charles Cameron, da página Smart Mobs no texto em que conta o caso de John Robb um especialista inglês em antiguerrilha que conversa via seu blog Global Guerrillas com o líder do principal grupo rebelde da Nigéria, responsável por danos avaliados em 50 bilhões de dólares em conseqüência de atentados contra instalações petrolíferas de empresas européias.


 


O potencial da Web para integrar horizontal e descentralizadamente comunidades sociais em conflito mútuo está tornando cada vez mais freqüentes e intensos os chamados  diálogos impossíveis pela internet, como o que está sendo travado via blog por uma especialista australiana em antiterrorismo e um dos principais artífices da estratégia militar do Taliban, a guerrilha afegã que é hoje a principal dor de cabeça dos Estados Unidos no mundo.


 


Este universo pouco conhecido das iniciativas de paz pela internet ainda está carregado de muitas dúvidas e suspeitas, uma herança das paranóias da extinta Guerra Fria. O projeto Peace on Facebook, por exemplo, é criticado pelo fato de que seu parceiro no MIT é um departamento que responde pelo intrigante nome de Instituto Tecnológico da Persuasão, que produz uma página chamada Peace Dot.


 


A conversa virtual entre a australiana Leah Farrall e o afegão Mustafá Hamid, mais conhecido no terrorismo internacional como Abu al-Masri, é parte da preparação de uma tese de doutorado pela australiana, especialista em inteligência antiguerilheira e autora do blog All Things Counter Terrorism, o que gerou especulações sobre o seu real objetivo.


 


Inicialmente foram levantadas dúvida sobre a autenticidade dos comentários do líder afegão, mas depois surgiram comprovações independentes de que eles são realmente verídicos. O que ainda não está claro é se Leah e al-Masri estão genuinamente buscando uma aproximação ou se tudo não passa de um exercício de contra-inteligência.


 

As interrogações ainda são muitas neste processo de aproximação de adversários via internet. Mas alguns especialistas na Web, como o professor e escritor norte-americano Howard Rheingold, acreditam que a rede pode estar começando a reproduzir parte daquilo que  o filósofo francês Teillard de Chardin classificou como uma noosfera,um espaço de idéias em estado puro, não contaminado pelas paixões.