A McCann Ericksson, uma das maiores agências de publicidade do mundo, criou o slogan ‘a verdade, bem dita’. Três exemplos jornalísticos do gênero na cobertura da Copa:
1. Do diário madrilenho Marca: “O ataque do Brasil jogou contra a Austrália com o freio de mão levantado.”
2. Do blogueiro Sean Ingle, hospedado no site do jornal londrino The Guardian: “Não culpem apenas Ronaldo. O atacante brasileiro é um alvo fácil, mas Carlos Alberto Parreira e Ronaldinho são igualmente culpados pelo mau começo da seleção.”
3. De Tostão, na Folha: “Falta ainda Parreira descobrir que Juninho é uma opção melhor do que Zé Roberto.”
Três tiros livres indiretos:
1. Do antenado correspondente da Folha em Washington, Sérgio Dávila: a sabatina, no Senado americano, do futuro embaixador dos Estados Unidos em Brasília, empresário Clifford M. Sobel, coincidirá com o jogo Brasil x Japão.
Perto da sensibilidade dos gringos para culturas alheias, a furada de Ronaldo cara a cara com o goleiro australiano é um gol de placa.
2. Todo mundo viu o lateral ganês John Pantsil festejar com uma bandeirinha israelense, que ele parece ter tirado da meia, a vitória da sua seleção sobre a República Checa.
Já imaginaram essa imagem na TV Al-Jazira?
Ontem os cartolas do país africano pediram desculpas pela “ação ingênua”. A desculpa de Pantsil é que ele joga num time de Tel-Aviv.
Essa é boa. Já imaginaram os argentinos se o Tevez sacasse de uma bandeirola brasileira depois do gol contra Sérvia-Montenegro porque ele joga no Corinthians?
3. É falsa como uma nota de 4 reais a oposição entre futebol bonito e futebol de resultados, que começa a pipocar na retórica da comissão técnica e ecoa na mídia.
O mesmo vale para a alegação que o segundo é a antítese (desejável) ao primeiro em Copas do Mundo.
Isso é conversa de inglês, que – parafraseando Verissimo – inventou o chuveirinho achando que inventava o futebol.
Muitas vezes o resultado do futebol de resultados pode ser a derrota, sem nem ao menos o consolo do espetáculo. Quem tem talento com a bola – nobre produto de exportação da Afroamérica – pratica o futebol bonito de resultados.
O resto, como escreve no Estado de hoje o cronista Luiz Zanin, juntando Copa e cozinha, é o “fast food do futebol global”.
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