A crise da violência pode ter sido um divisor de águas não apenas em relação à percepção que São Paulo tem de sua (in)segurança pública, mas também na maneira como jornalistas, autoridades e leitores se relacionam com as notícias.
A editora-chefe do Globo Online, Joyce Jane, que foi repórter de Economia do Jornal do Brasil e do Globo, retira dessa terrível experiência recente a constatação de que a velocidade da divulgação permitida pela internet mudou todas as relações, “das fontes com os jornalistas, dos jornalistas com o público, e a própria cobrança do público, que vem imediatamente”.
– O governo, a Polícia e o próprio Ministério Público tiveram que agir muito mais rapidamente, porque o fato de nós colocarmos notícia o tempo inteiro no ar fez com que eles fossem obrigados a soltar informações em boletins. Não dava para esperar e juntar tudo no fim do dia e dar aquela tradicional coletiva com um balanço do que tinha acontecido. As autoridades tiveram menos tempo para pensar na crise e aprontar um discurso certinho – diz Joyce.
A nova dinâmica da informação muda os próprios fatos. Houve no dia 15 de maio uma onda de boatos e pânico. A cidade ficou paralisada e só no dia 17 começou novamente a respirar. A volta à rotina (não a uma ilusória “normalidade”) se deu após a Virada Cultural, com grande afluência de público, no fim de semana de 20 e 21 de maio
Joyce Jane vive um processo intenso de reflexão sobre as características da nova mídia, ditado pela necessidade de renovar inteiramente o site que dirige. O Globo Online comemora em julho dez anos de existência. A editora diz que ele começou atrás de outros, já está em segundo lugar entre os sites de jornais e quer chegar à primeira posição em 2010.
Ontem, Joyce falou ao Observatório sobre a experiência nessa crise recente. Em 12 de maio, na véspera de começarem os ataques ordenados pelo PCC, ela havia dado uma entrevista sobre a experiência e os planos do Globo Online. No primeiro momento, constatou, a internet foi uma cópia muito fiel dos jornais. Hoje se sabe que “a linguagem da internet não é a do papel, mas também não é a da televisão e não é a do rádio”. A linguagem da internet ainda não está pronta. “Vai sair disso tudo”, afirmou.
Leia em seguida as entrevistas.
‘Aprendizado para jornalistas e fontes‘