Depois dos bancos, construção civil e grandes montadoras de carros, chegou a vez dos jornais norte-americanos baterem às portas do Congresso dos Estados Unidos em busca de ajuda para sair de uma crise cujo desfecho ainda é uma grande incógnita.
Das audiências numa subcomissão especial do Senado norte-americano participam representantes de todas as partes envolvidas na crise dos jornais. Oferecem uma oportunidade única para comparar os principais argumentos dos grandes protagonistas no caso.
Para começar, os jornais impressos apontaram suas baterias contra o site de buscas Google acusado de canibalizar o conteúdo informativo das edições diárias, ao republicar este mesmo material em páginas noticiosas editadas automaticamente por sistemas eletrônicos.
Jim Moroney, editor-executivo do jornal Dallas Morning News, prestou depoimento aos senadores segurando um cartaz com a frase “Google is a parasite” (O Google é um parasita). Ele foi o porta-voz de outras reivindicações como redução de impostos e relaxamento da legislação antimonopólio na imprensa, destinada a preservar um mínimo de livre concorrência no ramo dos jornais.
Os jornais alegam que estão sendo explorados por empresas da internet, que estariam impondo condições muito duras para publicar matérias jornalísticas. É o caso da livraria Amazon, que acaba de lançar o Kindle DX, que muitos chamam de jornal eletrônico, em que os leitores lêem num monitor que simula papel impresso.
A Amazon exige 70% da receita gerada pela publicação de edições diárias de jornais no Kindle DX, provocando a ira dos executivos da mídia que estão enfrentando uma situação inédita: ter que engolir exigências de parceiros comerciais.
A empresa Google também compareceu às audiências e obviamente defendeu-se das acusações batendo no fígado da indústria dos jornais. A vice-presidente da empresa, Marissa Meyer, disse que os jornais deveriam estar agradecidos à sua empresa por receberem nada menos de 1 bilhão de visitas mensais oriundas de internautas que fizeram buscas no site da Google.
Marissa foi ainda mais longe no bate boca, pois se arriscou a dar palpites na condução dos negócios da mídia impressa. Ela disse que os jornais insistem em vender edições completas quando as pessoas querem apenas ler as notícias que lhe interessam, e aconselhou os editores a mudar a estratégia editorial dos jornais para contemplar as necessidades e desejos dos consumidores de informação.
Os blogs também entraram na polêmica porque o Senado convidou a bem sucedida jornalista Arianna Huffington para dar o seu depoimento sobre a situação dos jornais impressos nos Estados Unidos. Arianna, editora-chefe da página web Huffington Post foi dura ao recomendar que os senadores deveriam se preocupar com o futuro do jornalismo e não com o dos jornais, porque segundo ela, são duas coisas diferentes.
“Tentar salvar os jornais impressos como eles estão hoje é mais ou menos o mesmo que seria tentar preservar o emprego dos escribas depois que Gutenberg inventou as gráficas com tipos móveis, no século 14”, sentenciou Arianna, acrescentando: “O eventual fim dos jornais impressos não significa o fim do jornalismo, muito pelo contrário”.
Atualmente o Senado norte-americano discute um projeto de lei apresentado pelo senador democrata Benjamin Cardin que prevê a possibilidade de os jornais regionais e municipais se transformarem em entidades sem fins lucrativos, ganhando com isso isenções fiscais e condições privilegiadas para captação de recursos financeiros.
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(1) Eu pretendia publicar hoje uma análise do livro de Caio Tulio Costa. Mas a atualidade do material sobre as audiências no senado norte-americano me leva a transferir para o fim de semana o texto prometido