Fernando de Barros e Silva faz hoje na Folha uma crítica pertinente ao sensacionalismo que marca o tratamento dado pela televisão, TV Globo à frente, aos casos de violência que se sucedem no país. Diz que há no ar (e na TV) um clima de “justiça justiceira”.
Polícia politizada
O presidente da Federação de Policiais Civis do Centro-Oeste e do Norte, Divinato Ferreira, afirma hoje no Globo que a “megaoperação” das polícias civis na sexta-feira faz parte de um conjunto de ações de delegados contrários ao projeto de lei orgânica das polícias em discussão na Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Presos e foragidos
A manchete do Globo de hoje é combustível para o sensacionalismo: ‘Número de foragidos já é maior do que o de presos’. Todos esses números precisariam ser qualificados, processo que resultaria em desinflá-los.
A maior parte das sentenças, em execução ou não, refere-se a crimes de menor potencial ofensivo. São sobretudo crimes contra o patrimônio, que uma Justiça menos insensata puniria com multas proporcionais ao poder aquisitivo do condenado.
Nas cadeias há uma quantidade considerável de indivíduos que já cumpriram pena e não conseguem alvará de soltura.
Seria necessário saber quantos indivíduos objeto de mandados de captura já morreram.
Foi reeditado em dezembro de 2006 o livro A Justiça a serviço do crime, do juiz e editorialista do Estadão Dácio de Arruda Campos. Foi escrito há mais de 50 anos. No prefácio, o advogado Sabatini Giampietro Netto afirma:
‘Em termos gerais, sustenta Arruda Campos que nosso Direito, a partir do século XIX, praticamente criou vida própria e tornou-se um fim em si mesmo: o aparato judiciário não pune todos os atos ofensivos à sociedade, mas apenas os que ofendem a lei, mesmo que não sejam anti-sociais (….) A sociedade, concomitantemente à produção de leis para moldar e disciplinar o comportamento de seus integrantes, organizou também um aparelho destinado a coercitivamente impor esses comportamentos ideais, pois sem coerção as leis seriam ineficazes. Esse aparelho, denominado Judiciário, foi desde o nascedouro autolimitado pelo princípio de que não há transgressão punível se o ato não feriu uma lei específica que assim a defina. Isto, afirma Arruda Campos, abriu horizonte para a injustiça (punem-se atos de pouca ou nenhuma nocividade social) e a impunidade de certos grupos de poder – cujos atos, embora socialmente danosos, não podem ser punidos. Viciado na origem, o sistema termina por gerar uma autêntica máquina de moer carne humana, e sua vítima preferencial são os grupos sociais desprotegidos‘.
Todo noticiário que sugere estar a sociedade diante de um problema de proporções avassaladoras tende a provocar inércia. Se a solução é impossível, nada vale a pena. O sensacionalismo anda de mãos dadas com a impotência política. Ou com soluções políticas autoritárias.
E não custa lembrar que o Esquadrão da Morte paulista nasceu há quase quarenta anos para aumentar o cacife da Polícia Civil, como relata o promotor aposentado e ex-deputado federal Hélio Bicudo. (Clique aqui para ler entrevista de Bicudo.)
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Quando Brasil é Brasília
O ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, fez ontem, entre outras, duas críticas certeiras à cobertura do jornal, baseado numa avaliação estatística de palavras-chave. Primeiro, disse que na política Brasil é Brasília: falta cobertura da política paulista e do território nacional. Segundo, que 72% dos textos que falavam sobre favela a associavam a morte, violência, assassinato, tráfico e outros crimes.
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Os heróis e o MST
A polêmica dos usineiros heróis segue hoje na coluna de Mônica Bérgamo, na Folha. Stedile, do MST, diz que a frase do presidente Lula foi infeliz, uma ofensa a milhões de assalariados rurais. Rubens Ometto, usineiro bilionário, diz que Lula é um amigo dos empresários da cana-de-açúcar.