O Fórum Econômico Mundial, que há 35 anos reune a nata do capitalismo mundial na bucólica cidadezinha de Davos, na Suiça, introduziu na edição 2007 uma mudança radical na sua organização, ao convidar pessoas comuns para participar, via internet, nos debates. Esta é a primeira vez na história do evento que a transparência diante do público ganha uma importância tão grande quanto a lista de figurões da economia e da política mundial inscritos para falar na conferência que acontece esta semana (24-28/1). O tema central do chamado Fórum de Davos deste ano sera A Nova Equação do Poder no Mundo e os organismos encarregados de viabilizar a participação popular são a BBC, o site Guardian Unlimited (do jornal ingles The Guardian), mais os blogs norte-americanos BuzzMachine e Huffington Post, apoiados pelo DayLife, um projeto experimental de página multimídia com notícias personalizadas. A busca da transparência levou o Fórum a criar o seu próprio blog, bem como abrir um espaço multimídia para envio de comentários em video e desembarcou inclusive no badalado Second Life onde a agência Reuters criou uma versão da conferência de Davos para a realidade virtual. Esta guinada cibernética do veterano concílio anual dos pesos pesados da economia capitalista, aparentemente, rompe com a proposta original de Klaus Schwab, o criador do evento, que pretendia reunir na minúscula e discreta Davos (12 mil habitantes) os principais líderes empresariais do mundo para uma troca de idéias informal sobre como maximizar a eficiência do sistema de livre empresa num ambiente de competição com o comunismo soviético. Ainda é cedo para saber se tudo não passa de uma operação de marketing para atualizar o evento depois que ele passou a ser mundialmente contestado pelos organizadores do Fórum Social Mundial, criado em Porto Alegre, há seis anos, e que se apresentou como uma contrapartida democrática e horizontal à reunião de Davos. Mas os primeiros resultados do chamado Fórum de Vidro não foram muito agradáveis aos organizadores. A maioria dos comentários postados desde que o Davos Conversation foi aberto ao público, eram mais críticos do que elogiosos. Jeff Jarvis, autor do blog BuzzMachine publcou alguns comentários de cidadãos comuns nos quais é possível detectar um grande ceticismo em relação ao fórum que muitos já apelidaram de Davos Virtual. Há textos questionando a utilidade de uma reunião num mundo onde a economia funciona cada vez mais independente da política; outros afirmando que agora a reunião vai se transformar ainda mais num circo midiático; e que é impossível os cidadãos comuns terem suas vozes escutadas simplesmente porque os dirigentes empresariais e politicos não tem tempo para ouví-las. Mas o economista inglês Seamus McCauley fez no meu entender a melhor contribuição ao debate sobre a guinada virtual no Fórum Econômico Mundial, mandar um comentário (reproduzido no seu blog Virtual Economics ) no qual ele afirma que a preocupação dos organizadores de Davos talvez tenha chegado tarde demais. Segundo McCauley, ‘o pessimismo está tomando conta do mundo, apesar as inovações tecnológicas. Nada menos que 53% dos europeus acreditam que a próxima geração terá muito menos prosperidade que a atual e a maioria dos garotos de 10 anos no Velho Mundo, acredita que o mundo está com seus dias contados por conta da mudança climática’. O pessimismo do economista inglês talvez não seja de todo justificável, porque a mesma pesquisa que indicou as expectativas sombrias de pouco mais da metade dos europeus mostrou, por outro lado, um marcado otimismo dos chineses. A verdadeira questão parece ser outra. Os modismos tecnológicos já não são mais o fator determinante nas mudanças em curso no planeta. Cada vez mais os especialistas, como o filósofo francês Pierre Lévy e o escritor norte-americano Henry Jenkins, acreditam que uma mudança só acontecerá de fato quando forem alterados os paradigmas culturais.