Outro dia o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, na pele de crítico de mídia, acusou a imprensa de “manchetismo”, sugerindo que jornais e revistas dão destaque demasiado às denúncias de corrupção.
Fonteles, que criou fama – na imprensa – como “desengavetador”, por oposição ao seu antecessor Geraldo Brindeiro, parecia querer que a mídia engavetasse em algum pé de página as suspeitas que atingem o PL, PP, o PT – e, por tabela, o governo. Tanto que, na semana seguinte, o homem forte do Planalto se foi 48 horas depois de ser advertido pelo deputado Roberto Jefferson para que o fizesse, do contrário “faria réu” o presidente Lula.
As declarações de Fonteles, vistas em retrospecto, autorizam supor que ele também acredita na teoria zédirceana do “complô das elites” contra o governo, com a ativa participação da mídia.
Agora, o procurador parece procurar encrenca com jornalistas, ao revelar ontem que deixou o presidente de fora da investigação por ele aberta sobre as acusações de Jefferson.
Para se justificar, alegou que o próprio deputado isentou Lula – como se isso, por definição, o inocentasse o presidente, de quem não se sabe o que fez, nem o que deixou de fazer quando informado do mensalão em janeiro último por Jefferson – oito meses depois de ouvir a mesma denúncia, restrita a dois deputados, da boca do governador de Goiás, Marconi Perillo.
Decerto com isso em mente, um repórter cometeu o que, pela sua reação, Fonteles deve ter considerado um crime de lesa-procurador. O repórter apenas perguntou se, apesar da absolvição dada por Jefferson, não seria o caso de ele fazer uma pergunta ou duas ao presidente.
Resposta do doutor Fonteles, conforme os jornais de hoje: “Quem julga [sic], quem investiga, não é você, sou eu.”
É o caso de retrucar que isso não é argumento: é desrespeito por um profissional que fez uma pergunta absolutamente pertinente. Equivale ao ‘sabe com quem está falando?’