Com todo cuidado, para não parecer puxa-saquismo, o jornalista responsável por esse blogue precaveu-se – segundo boa parte dos leitores, exageradamente – e alertou que, naquela semana, a revista The Economist havia sido ignorada pela imprensa nacional. A lacuna soou evidente demais porque a revista é rigorosamente repercutida no Brasil, não apenas por sua secular credibilidade mas também porque é uma das fontes que formam o humor do grande capital internacional.
A razão da omissão estava no motivo do editorial e da longa reportagem daquela semana sobre o combate à fome nos países pobres: os elogios à iniciativa pioneira do Brasil de dar dinheiro vivo para quem não tem de onde tirar – mas sob condições, como a de manter os filhos na escola e apresentar comprovante de presença nas campanhas de vacinações. Para os grandes jornais e revistas brasileiros, entretanto, o programa já está taxado como mais um fracasso do governo Lula – e é essa a verdade a ser mantida.
O texto postado procurou chamar a atenção para o comportamento errático das maiores publicações do Brasil. Desde sempre, a reprodução das intervenções da mídia internacional sobre assuntos nacionais mereceu atenção dos editores. Nos vários períodos de instabilidade econômica e financeira da última década, esses registros foram determinantes para aprofundar ou amenizar a crise que se vivia e muitas vezes foram parar na manchete principal do dia.
Passado o período de observação do silêncio em relação ao Bolsa-Família, não deu outra: as revistas e os jornais, esses últimos principalmente, voltaram ao ritmo anterior e registraram tudo que saiu na revista sobre nosso país, revelando a adoção da Lei Ricupero ao contrário: esconde-se o que é bom e mostra-se o que é ruim
Como explicar a indisposição da grande mídia nacional na repercussão do Bolsa-Família?
A pergunta acolhe dezenas de respostas. As razões para a omissão são intrincadas, sensíveis e reveladoras de outros comportamentos controversos da grande mídia.
Um deles é que a reprodução do modelo venezuelano no Brasil, no qual as grandes empresas de mídia ocuparam o espaço dos partidos políticos. O risco dessa tragédia para a democracia ocorrer no Brasil é crescente, e a maior prova dessa ameaça está na publicação quase diária de textos apresentados como reportagens quando, na verdade, servem para expressar opinião. Em outras palavras, o leitor acredita estar comprando informação, mas o que lhe vendem é opinião.
O comportamento da revista Veja nos últimos meses é exemplar – e não facilmente identificado apenas na série de capas sobre as denúncias contra o governo Lula e o PT, mas também na capa sobre o referendo sobre a venda de armas ou em páginas com assuntos mais ‘inocentes’, como a agenda de shows do cantor Moby no Brasil, como esse blogue também registrou.
Nada contra o fato de uma publicação expressar a opinião de seus donos, seja qual for a posição deles diante dos fatos. Mas identificar um texto opinativo como reportagem, é empulhação.