Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Do lado dele, não sou nada. Mas ele está mentindo’

Graças à repórter Rosa Costa, o Estado de S.Paulo deixou de ser o órgão de imprensa que menos contribuiu com revelações próprias sobre o escândalo do mensalão e arredores.


Publicada hoje, a entrevista de Rosa com o caseiro do imóvel do Lago Sul, em Brasília, sede da República de Ribeirão Preto entre junho de 2003 e fevereiro de 2004, deixa na pior o ministro da Fazenda e ex-prefeito daquela cidade, Antonio Palocci.


Francelino Santos Costa, o Nildo, foi muito mais longe do que o motorista Francisco das Chagas Costa na CPI dos Bingos, quando contradisse o ministro sobre a sua presença no casarão.


Transpirando sinceridade, Palocci disse na mesma CPI que nunca pusera os pés no lugar onde se reunia a sua patota e onde se davam festas animadas pelas moças de madame Corner.


O motorista disse que o viu ali “umas duas ou três vezes”.


Pelas contas do caseiro Nildo foram “umas 10 ou 20 vezes”.


Mais: ele contou em detalhes as aparições do “chefe” como a sua corriola o chamava: avisava com antecedência, vinha sozinho, guiando um Peugeot prata, de vidros escuros.


O ministro era chegado a um escurinho. “Ele falava que não era para ligar a luz do jardim, que queria a casa escura do lado de fora”, contou Nildo.


A fotofobia do ministro é compreensível, a crer nas palavras do ex-caseiro. A casa era uma espécie de entreposto financeiro. Ali entrava e dali saía dinheiro vivo – “muito dinheiro”, segundo Nildo: “Pacotes de R$ 100 e R$ 50”.


Informado da entrevista, o ministro mandou a sua assessoria responder que ele “nunca foi à casa do Lago Sul e, portanto, não tem qualquer relação com as atividades realizadas na mesma”. Segundo Palocci, tanto o motorista Francisco das Chagas Costa como o caseiro Francenildo “não estão falando a verdade”.

Pode ser, mas não parece. O que dá enorme credibilidade às declarações do ex-caseiro à jornalista do Estadão, além da riqueza de detalhes das suas descrições e referências a fatos e pessoas, é uma frase que soa devastadora:


“Do lado dele [Palocci], não sou nada. Mas ele está mentindo.”


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