Nada mais natural que a imprensa queira publicar e o público queira saber os nomes dos políticos e assessores parlamentares citados nas escutas telefônicas autorizadas pela Justiça no curso da Operação Sanguessuga, da Polícia Federal.
A investigação trata da compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras com dinheiro do orçamento federal.
Uma lista com 62 deputados, um suplente e um senador está em todos os jornais de hoje. Há indícios contra metade deles – ou, mais exatamente, contra 32 deputados e o senador, Ney Suassuana, do PMDB da Paraíba.
Os demais podem ter se refestelado do sangue do contribuinte – ou não terem envolvimento algum com mais esse escândalo, que lembra o dos Anões do Orçamento e a CPI a respeito, em 1994. Mas os nomes de todos já estão na boca do povo e os seus portadores, expostos desde logo à execração, é que são chamados a explicar por que aparecem nas fitas dos grampos.
À parte isso, tenho para mim que o que mais interessa – mais até do que a identidade dos sugadores, apesar de sua óbvia importância para o eleitor – é conhecer em detalhes como funciona a sucção, como se faz para tirar o sangue da sociedade para nutrir um bando de vampiros. E disso, por enquanto, a mídia dá apenas uma idéia muito genérica.
Os jornais precisam ir além dos infogramas ilustrando o que pretende ser o ‘passo-a-passo’ da fraude, e detalhar o caminho percorrido pelos fraudadores, cúmplices e inocentes úteis.
Não só para o público ter uma visão desanuviada de como lhe batem a carteira – quaisquer que sejam os batedores. Mas para que se dê conta também do que deve mudar, no plano institucional, para restringir as ocasiões que fazem os ladrões.
P.S.
Da série ‘O diabo está nos detalhes’:
Uma entrevista na Folha de hoje com o angolano acusado por um garçom de ser o mandante da morte do prefeito de Campinas, Toninho do PT, em 2001, começa assim:
‘O empresário José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo está aturdido desde que seu nome foi citado…’.
O entrevistador não sabe se o entrevistado ‘está aturdido’ de verdade. Pode até ser que sim. Mas, principalmente em casos como esse, a prudência recomendaria escrever que o empresário parece aturdido ou se diz aturdido.
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