É o que a empresa norte-americana American Online (AOL) pretende fazer na sua página na Web dedicada ao jornalismo. O modelo que está sendo vendido aos anunciantes como a “redação do futuro” e se baseia em três itens todos eles automáticos: identificação dos assuntos que podem interessar ao leitor; seleção de free lancers e escolha de prováveis anunciantes.
Do ponto de vista cibernético, o projeto parece um achado porque usa robôs eletrônicos para varrer o YouTube, Twitter, comunidades virtuais e outros sites não divulgados para detectar tendências informativas entre os internautas. Depois de identificadas as preferências por meio de softwares analíticos, o sistema compara os dados obtidos com o perfil de jornalistas free lancers, cadastrados no site a AOL.
O computador seleciona alguns nomes de profissionais ao mesmo tempo em que faz uma pesquisa na Web com palavras chaves recolhendo material de apoio para a reportagem ou artigo. Tudo isto paralelamente a uma varrida nos perfis de possíveis anunciantes para que o material possa ser publicado já com os custos pagos pela publicidade.
Parece a maravilha do jornalismo estilo biônico executado pelo que alguns críticos norte-americanos já chamam de mediaborgs, numa alusão aos cyborgs, organismos metade humano metade eletrônicos, famosos em filmes protagonizados pelo atual governador de Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Os tecnófilos estão maravilhados com o jornalismo estilo “lavoura de notícias”, como foi classificado pela crítica da mídia Patrícia Handschiegel . A American Online diz já ter recebido inscrições de cerca de 200 jornalistas, que em sua maioria perderam os empregos nos últimos dois anos. Mas o resto da imprensa norte-americana tem sido extremamente mordaz em relação do cyberjornalismo da AOL, cujos responsáveis são chamados de “coveiros da informação qualificada”.
O projeto está atraindo muitos profissionais desempregados porque oferece um sistema de remuneração baseado em percentuais na publicidade recebida pela reportagem ou artigo.
A invasão do jornalismo por soluções tecnológicas é um processo irreversível porque está apoiado no interesse das empresas de reduzir gastos e aumentar receitas com publicidade. A AOL esteve à beira da falência durante vários meses no ano passado e o seu site de notícias continua sob a ameaça de fechamento, por falta de anunciantes.
Neste contexto, a preocupação com a qualidade da informação passa a depender cada vez mais dos jornalistas. São eles que poderão dar uma nova dimensão à sua atividade na era digital. As empresas, agora mais do que nunca, procuram a lucratividade. Não adianta esperar delas preocupações humanísticas porque o esforço para sobreviver está consumindo todas as suas energias.