Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eduardo Lula da Silva Azeredo

Eles nunca sabem. O presidente Lula “nunca teve conhecimento” do que faziam, confessadamente, o amigo a quem emplacou na tesouraria do PT, o professor Delúbio Soares, e presumivelmente o seu “primeiro-ministro” José Dirceu.

Delúbio, o que previu outro dia que tudo vai virar “piada de salão”, tinha livre acesso ao Palácio do Planalto e fazia uso sistemático da prerrogativa.

Às vezes ele aparecia acompanhado do agora ex-secretário petista Sílvio Pereira, o do Land Rover de R$ 73,5 mil – assim como Delúbio é o do Omega blindado de R$ 67 mil. As visitas davam um sentido literal, físico, à expressão “partido no governo”. Às vezes, o acompanhante era Marcos Valério, que bem merecia ser chamado de Valerião.

Pela folha corrida, pela montanha de dinheiro que era capaz de carregar nos ombros, metaforicamente, de um lado para outro. E para rimar com mensalão.

Mas o presidente da República, mergulhado diuturnamente na busca de soluções para as graves questões nacionais, nada via, nem ouvia.

Não estava, como se diz, nem aí.

E o então governador de Minas, em 1998, o tucano Eduardo Azeredo, hoje senador e presidente do seu partido?

Sabia, não, uai.

Sabia, não, que Cláudio Mourão, o seu secretário de Administração, licenciado para administrar o cofre da campanha reeleitoral do chefe – afinal, fracassada, pois quem acabou no Palácio da Liberdade foi o ex-presidente Itamar Franco – tinha fechado um negócio de arromba, com perdão da palavra, com o inefável Marcos Valério.

Foi assim. O futuro Valerião, que ao que tudo indica começou aí a dar os seus primeiros passos rumo à fortuna, se dava bem com Mourão. Tanto assim que o secretário colocou uma de suas funcionárias numa das agências do publicitário.

Chegado o tempo da campanha, Valerião deu um jeito de tomar no Banco Rural um papagaio de R$ 10 milhõesinhos. Ofereceu como garantia os seus contratos de publicidade com o governo mineiro do doce Azeredo. [Empossado, Itamar descontratou os serviços valerianos.]

O bom cabrito e o “pequeno detalhe”

Qualquer semelhança com as operações casadas do Valerião com a banca mineira em 2003 não é mera coincidência. É pura repetição, mudando apenas, digamos assim, os valores, os destinatários e o contratante.

O tesoureiro Mourão tinha procuração plena do governador-candidato Azeredo para levantar os cifrões que engordariam a campanha. Ela custou R$ 20,1 milhões, informou ontem o tesoureiro à CPI dos Correios. Destes, R$ 11,2 em regime de caixa 2. Destes, como foi dito, R$ 10 com as digitais de Valério.

Duda Mendonça, sim, sempre ele, foi o marqueteiro de Azeredo. Cobrou R$ 4,5 milhões. Pelas contas enviadas à Justiça Eleitoral, tudo somado no oficial, a malograda campanha saiu por R$ 8,5 milhões.

Quer dizer, passaram pelo caixa 2 da coligação comandada pelo PSDB mineiro, em sociedade com o PFL, R$ 11,6 mi.

E o bom Azeredo diz que só depois que deixou de ser governador soube dos acertos entre Valerião e Mourão. Este, que por sinal teve de amargar um toco de R$ 1,6 mi, não desmente o antigo chefe. Seria o caso de dizer que bom cabrito não berra, não fosse por um “pequeno detalhe”

No ano passado, Mourão pediu ao Supremo Tribunal Federal abertura de processo contra Azeredo e o seu vice Clésio Andrade por perdas e danos, mas três meses atrás retirou a ação.

“Parlamentares da CPI”, informa hoje o Estado, “acharam suspeita essa decisão”. Ouço alguém aí falar em caixa 3?

Essa enfim a história em que, separados por quatro anos, ao menos, Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Azeredo se fundem nessa criatura chamada Eduardo Lula da Silva Azeredo, dotada de olhos e ouvidos seletivos: não enxergam nem escutam o que não lhes convêm saber. Por exemplo, que dinheiro não dá em árvore e que, também em política, não há almoço gratis.

Só que tem um porém. Eduardo Lula da Silva Azeredo não pode ser responsabilizado criminalmente pelos crimes que de que se beneficiou [embora, quando se trata de eleição, o candidato é sempre o responsável último pelas contas da campanha].

Mas isso não o livra – ou não deveria livrá-lo – da responsabilidade política, objetiva, pelos ilícitos cometidos em seu favor, por ordem dele ou não, com ou sem o seu assentimento, com ou sem o seu conhecimento.

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