Como é que um jornal deve relatar um acontecimento que a TV mostrou na véspera em horário nobre?
Decerto não se limitando a traduzir burocraticamente em palavras as imagens feitas para serem vistas para um número muitíssimo maior de pessoas do que a soma dos leitores de todos os jornais do país. P>
Mas foi rigorosamente o que fizeram o Estado e o Globo de hoje nas matérias sobre os 11 minutos de propaganda política do PFL em rede nacional, ontem à noite.
A cobertura preguiçosa de ambos os jornalões se deixa ver já nos seus títulos que erguem um monumento à falta de imaginação. “Na TV, PFL liga presidente ao esquema de corrupção”, redunda o Estado. “PFL bate no governo por 11 minutos”, boceja o Globo.
Agora, a Folha: “Na TV, PFL faz ataque anônimo de 11 minutos”.
O anonimato é a notícia, o fato que pode ter escapado à grande maioria dos espectadores da emissão.
E a explicação vem logo na abertura do texto, como convém:
”Nenhum político pefelista apareceu no programa, e o nome do partido não foi mencionado em momento algum. Ao final do programa, um selo que identifica a sigla foi exibido por apenas seis segundos.”
Mas o Folhão não ficou nisso. No dia em que a imprensa noticia a intemperança do pefelista José Jorge, o candidato a vice de Alckmin – segundo o qual Lula ‘bebe muito, como dizem por aí’ – o jornal serviu aos seus leitores uma dose dupla de acertos.
A sua outra exclusividade é o conjunto de matérias que ocupam 2/3 do espaço útil de uma de suas páginas do noticiário nacional.
A peça de resistência é a reportagem assinada por Rubens Valente que revela que a Polícia Federal confirmou a autenticidade da lista de Furnas.
Trata-se da relação de 156 políticos, a maioria deles tucanos e aliados, cujas campanhas em 2002 teriam sido irrigadas com R$ 40 milhões não declarados por empresas que tinham contratos com a estatal de eletricidade.
A quinta e última folha do documento traz a assinatura do então diretor de Engenharia de Furnas, Dimas Toledo. Ele jamais admitiu a autoria, muito menos a assinatura da lista. A Polícia Federal concluiu que a assinatura é verdadeira. A perícia tampouco encontrou sinais de montagem no papelório inteiro.
Evidentemente, a autenticidade da lista não prova que tudo que nela consta seja verdade. Evidentemente também, aplica-se ao caso o milenar ditado italiano:
”Si non è vero, è ben trovato.”
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