Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Enigma: por que operadoras de telefonia regionais anunciam em revista de circulação nacional?

Os acionistas das operadoras Amazônia Celular e Telemig Celular estão agastados com as seis páginas de ‘Informe Publicitário’ veiculadas na revista Veja desta semana, com informações originadas dos balanços das duas empresas, na qual se tem o primeiro exemplo da história de um banqueiro que rasga dinheiro. Em um período de concorrência feroz entre operadoras, fabricantes de celulares e redes de lojas à cata de consumidor, as operadoras gastaram centenas de milhares de reais para veicular nacionalmente duas empresas que operam em mercados regionais.


O motivo da fúria dos acionistas é que uma página de publicidade na revista Veja é cerca de três vezes mais cara do que uma página de qualquer jornal de circulação nacional. Considerando-se o preço, sem desconto, de cerca de R$ 150 mil por página da revista, a inserção das duas operadoras custou R$ 900 mil. Outra razão do mau humor dos acionistas é que o espaço ocupado nas seis páginas da revista caberia com facilidade em apenas uma página de jornal.



As duas operadoras são controladas por Daniel Dantas, do banco Opportunity, que está sendo desalojado judicialmente da administração da Amazônia Celular e da Telemig Celular pelos outros dois sócios majoritários: os fundos de pensão, com a Previ à frente, e o Citibank.


O mesmo banqueiro é a personagem central de reportagem de hoje da Folha de S.Paulo, ‘Daniel Dantas usa Dirceu e PFL para atuar na CPI’, assinada por Kennedy Alencar. O texto informa que, ‘com o apoio do PFL e do deputado José Dirceu, Dantas tem atuado na CPI dos Correios e no Congresso para tentar recuperar influência sobre os fundos de pensão de estatais – poder que teve no governo FHC.


‘Dantas viu na crise’, continua a reportagem, ‘uma oportunidade de articular manobras políticas e econômicas que possam lhe devolver o controle sobre um grupo de empresas cujo valor de mercado chega a R$ 15 bilhões.


‘Em conversas reservadas com a Folha, membros da oposição e da base do governo que pertencem à CPI dos Correios confirmaram que Dantas tem operado na comissão por intermédio do PFL.


Nos bastidores, os ex-ministros Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) voltaram a ficar em lados opostos quando o assunto é Dantas. Desde a campanha eleitoral de 2002, quando barrou tentativas de doações em dinheiro de Dantas ao PT, Gushiken é um obstáculo para o banqueiro por sua influência junto aos fundos de pensão, área na qual se especializou.


‘Gushiken, hoje chefe do NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência), já foi convocado para depor na CPI sobre a relação dos fundos de pensão com empresas que abasteceram o esquema PT-Valério. Já há parlamentares que cogitam convocar Dantas.


‘O banqueiro deu R$ 145 milhões a empresas do publicitário Marcos Valério de Souza’.A reportagem de Kenney Alencar ainda lembra que o Opportunity e Dantas são os principais implicados, ao lado da empresa de investigação Kroll, no inquérito da Polícia Federal que investiga a espionagem da empresa sobre ações dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, e arremata nas últimas linhas:


‘Historicamente bem relacionado com a cúpula do PFL, Dantas recebe auxílio de membros do partido, como os senadores ACM, Jorge Bornhausen (SC) e Heráclito Fortes (PI), além dos deputados Alberto Fraga (DF) e Abelardo Lupion (PR).Um membro da cúpula da CPI confirmou à Folha que advogados ligados a Dantas e Almeida Castro têm ajudado o PFL a fazer investigações nas operações dos fundos de pensão.’