A Faculdade de Jornalismo da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, acaba de criar um Centro de Inovação Jornalística e Engajamento Cívico, cuja missão é explorar novas formas de exercer o jornalismo em ambiente digital, especialmente aquelas vinculadas à relação entre profissionais e as comunidades sociais.
Trata-se de uma nova tentativa de recuperar a ideia de um jornalismo associado à causas sociais, responsável por um aguda polêmica no ambiente profissional durante os anos 1970 e 80, quando o professor Jay Rosen e o editor de jornais Davis Merritt lançaram a ideia do jornalismo cívico, logo em seguida apoiada financeiramente pelo hoje desativado Pew Center for Civic Journalism.
Trata-se de mais uma universidade americana que decide explorar novas áreas de exercício do jornalismo em ambiente digital, partindo de uma perspectiva de que é necessário experimentar, mesmo correndo o risco de insucesso. As universidades americanas estão empenhadas em explorar áreas pouco conhecidas do jornalismo em ambiente digital, enquanto as instituições de ensino superior no Brasil dedicam-se a uma interminável polêmica sobre normatização dos currículos acadêmicos.
Enquanto uns tentam entender a nova realidade a partir de experiências em campo, em especial na redescoberta do papel das pessoas na produção de notícias, outros se preocupam em definir e regulamentar algo que está reconhecidamente em processo de transição. O nosso grande desafio hoje é identificar o novo contexto da produção jornalística e não o de tentar definir algo que pode estar ultrapassado dentro de meses.
A preocupação exploradora das universidades americanas no campo do jornalismo provavelmente busca desenvolver estratégias editoriais para resolver os agudos problemas da imprensa local e depois exportá-las para o resto do mundo. Já no Brasil o empenho na discussão de normas e regulamentos talvez seja uma consequência da histórica dominação dos grandes conglomerados da imprensa brasileira sobre as faculdades de jornalismo, colocadas diante da opção de formar mão de obra para as redações ou produzir teóricos da comunicação.
Estamos perdendo uma oportunidade única de pesquisar a nova realidade comunicacional e informativa que está surgindo no Brasil sem a necessidade de grandes recursos financeiros. O ingrediente básico é o envolvimento com a comunidade, porque é aí que podem ser identificados os novos rumos do jornalismo. As novas tecnologias nivelaram profissionais e praticantes do jornalismo ao permitir que ambos possam comprar os equipamentos básicos a preços toleráveis. O diferencial está na postura diante da realidade social.
As faculdades de jornalismo no Brasil parecem temerosas de abandonar a zona de conforto de uma atividade acadêmica voltada para dentro de si própria ou para as empresas patrocinadoras. O desafio está nas ruas e nas comunidades sociais porque é nesses locais que estão os dilemas urbanos, ao contrário do que sucedia até agora nas coberturas jornalísticas com a predominância das fontes oficiais e os especialistas como interpretes da realidade que nos cerca.
Nos anos 1970-80, a ideia de jornalismo cívico não prosperou nos Estados Unidos porque estava ligada às campanhas eleitorais visando reduzir a apatia e abstenção, e preconizava o abandono do tradicional princípio da isenção jornalística diante de problemas sociais. Nos demais países a proposta não vingou porque esbarrou nos preconceitos ideológicos da, então vigente, dicotomia entre capitalismo e comunismo.
Quase 40 anos depois, o jornalismo cívico em estudo na Universidade de Oregon não parte mais de uma preocupação eleitoral, mas sim da visão de que é necessário desenvolver uma nova narrativa jornalística baseada na interatividade entre profissionais ou praticantes de atos jornalísticos e o público. O tão badalado “engajamento comunitário” é hoje um grande desafio para os pesquisadores americanos, que veem no relacionamento com o público também uma possibilidade de identificar novas estratégias de sustentabilidade econômica.