Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Entrevista dá a deixa para um debate essencial

Neste começo de semana em que, salvo escândalos novos, a política do dia-a-dia vai girar em torno da figura e do presumível mensalinho recebido pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti -– cuja eleição para o cargo foi, este sim, uma quebra de decoro parlamentar tamanho família – queria fazer um convite ao eventual leitor.

O convite é para olhar um pouco adiante da crise que, dia mais, dia menos, terminará.

Meu ponto de partida é uma passagem da interessantíssima entrevista do colunista Josias de Souza, na Folha de ontem, com o deputado Fernando Gabeira – que assegurou o seu lugar na crônica da crise ao dizer, olho no olho, de Severino, que ele é “um desastre para o Brasil”.

A passagem é a seguinte:

“O que o sr. enxerga no futuro?”

“Vários mitos caíram. A ausência de um mito messiânico da classe operária permite concluir que não temos salvadores, o que é um avanço. A decadência moral em que parte da esquerda se meteu mostra que ela não é o bem absoluto. Fica demonstrado também que a direita não é o mal absoluto. Abre-se espaço para novas conformações políticas.”

“Que parcerias o sr. vislumbra para depois do dilúvio?”

“(…) É preciso ver o que vai sobrar. Mas creio que há a possibilidade de uma coligação de centro-esquerda, capaz de negociar com a direita sem comprá-la.”

Não é preciso comprar as idéias de Gabeira para reconhecer que elas merecem um debate o quanto possível despreconcebido. Porque ou a esquerda agarra o touro à unha, encarando, entre outras desgraças, a pantanosa realidade em que foi lançada pela crença de setores do PT de que os fins justificam os meios, ou tenderá a se tornar uma irrelevância na política brasileira.

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