(Ver também: “Rádio all news vai fazer 15 anos no Brasil” e ‘Heródoto Barbeiro e Luiz Henrique Iagelovic falam da CBN”.)
A CBN é rentável, está equilibrada? É difícil contratar gente, comprar equipamento?
Mariza Tavares – A CBN faz 15 anos em 1 de outubro de 2006. Pretendemos editar um livro pela editora Senac para marcar a data e contar essa trajetória. Até mais ou menos 1997 a emissora era totalmente deficitária. Já tinha conseguido um nicho de ouvintes fiéis, formadores de opinião, mas aquilo não se traduzia num modelo de negócios, como é a necessidade imperiosa dos dias atuais. Nessa época houve uma mudança de diretoria, buscou-se tornar a rádio mais rentável. E se enxugou a estrutura que existia até então, mantendo a característica de emissora all-news. Havia um Jornal da CBN gerado no Rio, outro em São Paulo, outro em Brasília. Eram três redações competindo, com perfis semelhantes. Desenhou-se o modelo de rede que existe hoje. Isso significou um corte de custos significativo. Após o noticiário nacional conduzido de manhã por Heródoto Barbeiro há um horário local, de nove e meia a meio-dia, cada um com seu âncora, voltado para as questões locais. A cada meia hora se forma a rede de novo, para o Repórter CBN e o que a gente chama de “rabicho do Repórter CBN”, quando se põe no ar um repórter que está cobrindo algo de breaking news. No resto do tempo, fora esse período matutino, é em rede.
Há uma cabeça de rede, que é basicamente São Paulo, com alguma pequena alternância com o Rio de Janeiro. De meia-noite às seis é o Rio que ancora, com dois programas. E à tarde, de duas às cinco, temos as quatro praças que são do Sistema Globo de Rádio e 20 afiliadas. No fim de semana uma parte da geração é feita no Rio.
A rede de afiliadas está em expansão?
M.T. – A perspectiva é de que tenhamos mais duas até o final de 2006, em Salvador e Teresina. Para se ter CBN, é preciso ser uma cidade de médio ou grande porte, com classe média. Se não, é mais difícil garantir a sustentabilidade da emissora, que precisa ter um número mínimo de jornalistas. Num panorama do rádio no Brasil, onde se tem um operador que é disc jockey e fala ao microfone, tudo ao mesmo tempo, a CBN acaba sendo, apesar de barata, com uma estrutura de redação pequena, grande demais.
São Paulo é o baluarte da rádio?
M.T. – Para o horário nobre, para o que conta comercialmente, a CBN é uma emissora paulista. Durante muito tempo no Rio de Janeiro houve uma pecha de que a CBN era “paulista demais”. Hoje em dia eu até acho que há um equilíbrio maior, mas não se pode negar que São Paulo é o centro de decisões, o centro econômico, e a emissora tem que obedecer a isso. Ela definitivamente não é uma emissora carioca. Mas não é mais tão paulistana quanto já foi.
A virada foi só uma questão de reestruturação do processo de produção da notícia?
M.T. – Já havia uma massa crítica – a CBN foi criada em 1991, em 1997/1998 já se tinha passado pelo impeachment de Collor, ela já tinha dado algumas provas de bom jornalismo, isento, bem-feito, direto na notícia, sem fazer negociatas de balcão, que infelizmente ainda acontecem com alguma regularidade, principalmente no rádio. Com essa virada deu-se forma ao novo modelo da CBN e aos poucos foram entrando, junto com os ouvintes qualificados, anunciantes qualificados.
De 1998 para cá existe uma virada da CBN como unidade de negócios, de tal maneira que hoje em dia a CBN São Paulo é o carro-chefe do Sistema Globo de Rádio. Foi de patinho feio a cisne de história infantil. São Paulo é o motor do país, onde se põe dinheiro para comerciais que devem ser veiculados em São Paulo e são exportados para outras praças. O modelo deu muito certo, teve acolhimento e criou um círculo virtuoso. As pessoas querem estar na CBN. É um retorno que eu tenho da própria diretoria comercial sobre como as pessoas programam mídia: “Eu não vou fazer rádio, vou fazer só CBN”.
Não estou puxando a brasa para a minha sardinha. Esse processo começou bem antes da minha chegada [em 2002]. O que a gente vem fazendo é tentar afinar cada vez mais o produto. “O que pode ser legal?”. “Ah, o problema de mercado para os jovens”, e a gente chama o Max Geringher. Depois descobrimos que o ouvinte precisa administrar as próprias finanças. Quem faz isso? Eu procurei o Mauro Halfeld, perguntei: “Você topa, se a gente conseguir um patrocinador?” Tem orçamento? Não. Mas a gente viabiliza. A parceria com a BBC, também. Nós tínhamos dez, doze correspondentes que eram mal remunerados, não faziam aquilo com a menor vontade, a BBC surgiu. Hoje a gente tem uma janela boa para o mundo, tem intercâmbio de jornalistas, uma vez por ano – estamos com vontade de fazer duas vezes – a gente escolhe, por meritocracia, alguém passa um mês em Londres e alguém da BBC passa um mês aqui. Trocamos experiências. Também tentamos nos aproximar mais da Rádio France, que é menor, temos uma parceria. E mantemos uma pessoa em Buenos Aires e uma em Nova York, que a BBC não consegue cobrir.
Sem fazer nenhuma grande revolução, porque a idéia toda é muito boa, vendo como se pode sempre refinar.
A CBN consegue ter hoje um padrão salarial razoável?
M.T. – Eu tenho um salário inicial em torno de dois mil reais. Não é alto, é baixo. Não é absurdamente baixo, é razoável. Eu diria que ninguém é muito mal pago. Ninguém faz dupla jornada, é um trabalho razoável, todo mundo folga, tem espaço para fazer cursos fora. Engraçado: nós somos percebidos como um veículo de ponta e às vezes eu tenho problemas porque não tenho salário de Folha, Estado, Globo. Por exemplo, em Brasília é mais complicado. Tem uma concorrência muito forte. Tem Senado, Câmara, assessorias. Os profissionais que trabalham na CBN têm muito orgulho porque todos têm liberdade de trabalho, de fazer um jornalismo sério, combativo.
Por favor, fale mais sobre a estruturação interna da CBN.
M.T. – Temos a redação formal, a redação dos programas. Por exemplo, Jornal da CBN. Heródoto é o editor e maestro. Ele tem seu produtor, sua equipe. Todo aquele mundo que está sendo inquirido, entrevistado pela redação é filtrado ali. O produtor conversa com o chefe de Reportagem. Tem material ali que vai ser editado. Mas é como uma outra redaçãozinha paralela. Tem a produção do (Carlos Alberto) Sardenberg – quando digo “a produção”… no dia em que eu fui a Londres visitar a BBC, tinha lá o equivalente ao jornal do Heródoto, de seis às nove, eles têm 60 pessoas na produção do programa. Pensei: “Nunca vou contar isso para o Heródoto”… Porque nós trabalhamos com uma produção de quatro, cinco pessoas. Eu somaria ainda todos os comentaristas.
Quantos jornalistas trabalham na CBN?
M.T. – No Rio de Janeiro são 45 jornalistas. Em São Paulo, 80, Brasília, 15, Belo Horizonte, 12. Sem contar os das afiliadas em outras 20 praças.
Oitenta jornalistas em São Paulo?
M.T. – É razoável, certo? Mas eu fui dar uma palestra na Máquina da Notícia [assessoria de imprensa e relações públicas], eles têm uma redação de 70 jornalistas. No Rio, sobretudo com o fim da Rádio JB, uma geração ficou sem jornalismo em rádio. Em São Paulo há uma concorrência mais agressiva. De manhã, todo mundo investe em radiojornalismo.
E o velho modelo da Rádio Globo, de Haroldo de Andrade, como ficou?
M.T. – Continua sendo uma rádio popular. Tem uma parcela de jornalismo. A CBN funciona como uma central de jornalismo. Noventa e cinco por cento do trabalho dos jornalistas da CBN é para a própria CBN, mas eles produzem também para a Rádio Globo. No Rio temos até dois repórteres que ficam fixos na Globo. Para rodar mais na Baixada Fluminense. Estamos pensando em fazer isso em São Paulo também. Depende de orçamento. A Rádio Globo ainda segue aquele modelo do comunicador, o ombro amigo, aquela voz bonita. Mas a Globo é um canhão. Líder de audiência.
A CBN é mais rentável?
M.T. – É. O modelo da Globo é mais caro. Tem aqueles grandes nomes de comunicadores. A CBN tem uma margem muito melhor. Jornalismo dá dinheiro! Bom jornalismo. É preciso colocar o adjetivo. A CBN é um negócio perfeitamente viável, rentável.
Às vezes o mau jornalismo também dá… Mas todos aprendemos que certos cortes de despesas não são necessariamente o que mais prejudica a qualidade do trabalho. Em determinadas situações, não há escolha, porque a alternativa é fechar.
M.T. – Eu vim de jornal e achava que era um orçamento franciscano, certinho, muito cuidado com despesas, que o Globo tem. Quando eu cheguei na rádio é que vi o que era verdadeiramente o franciscano. Mas é bom porque você acaba tendo idéias para tornar as coisas viáveis. “Não dá para ficar desse jeito. Que parceria podemos fazer?” A parceria com a BBC foi assim, a parceria com o Valor também.
A CBN não paga nada?
M.T. – As parcerias não envolvem dinheiro. Mas você dá uma vitrine para o outro, todo mundo fica satisfeito com aquilo. Fazemos com outros parceiros, como a Auto Esporte, que é muito bem-feita. Na verdade, como é que vai ser? Não vai ter mais “repórter de rádio”, “repórter de jornal”. Cada vez mais as mídias se fundem. No Rio já fazemos um estágio em parceria com o jornal. Os estagiários são escolhidos numa dinâmica da qual todos os candidatos participam, aumentamos o estágio para nove meses e eles passam pelas editorias do jornal e pela rádio. Forma-se uma pessoa com mais trânsito nas mídias.
Audiência
Os dados de audiência obtidos pela pesquisa de recall do Ibope deram, na média do trimestre outubro/dezembro de 2005, 127 mil ouvintes entre 6h e 19h, de segunda-feira a sexta-feira, nas quatro emissoras próprias da CBN. A senhora pode detalhar esses dados?
M.T. – O pico de audiência do Rio é das oito às nove da manhã. O de São Paulo, das sete às oito. Temos medição de Ibope nas nossas quatro praças. Das nossas afiliadas, nem todas medem o Ibope, devido ao custo. Em Brasília, acho que boa parte do Congresso ouve CBN. Aliás, acho que acorda na hora do (Arnaldo) Jabor, ouve e depois me liga. Em ano de eleição é dureza. No nicho de rádios informativas, de jornalismo, em São Paulo, a Bandeirantes ganha em alguns horários, nós em outros, a Jovem Pan fica para trás, em terceiro lugar.
A Eldorado…
M.T. – É bem de nicho, dez, doze mil ouvintes por minuto. Esse é o quadro das emissoras de jornalismo qualificado. A Globo dá 400 mil por minuto. No pico, que é o programa do padre Marcelo Rossi, são 800 mil ouvintes por minuto em São Paulo, mais 800 mil no Rio. O canhão da Rádio Globo continua muito forte. É líder de audiência, mas trabalha em outro mercado.
Nós fazemos Ibope em carro. A CBN é a primeira, disparada, em relação a suas concorrentes com perfil semelhante: Bandeirantes, Jovem Pan. Isso só vale a pena fazer em São Paulo, onde as pessoas passam muito tempo no carro.
(Os dados principais da audiência média do último trimestre de 2005 medida pelo Ibope mostravam que o público da CBN era mais masculino (64%) e predominantemente das classes chamadas A e B (66%; C tem 23% e D e E têm 11%). Os ouvintes nas faixas etárias de 30 anos e mais somavam 88% do total. Até 29 anos não passavam de 12%.
As emissoras próprias tinham as seguintes médias:
São Paulo – 75,8 mil
Rio de Janeiro – 32,6 mil
Belo Horizonte – 10,2 mil
Brasília – 8,7 mil.)
Busca de isenção
A CBN nunca foi acusada de ser a favor de A, B ou C…
M.T. – Apanhamos dos dois lados. Tem gente que acha que nós somos petistas, os petistas acham que somos tucanos. Eu acho que isso é bom. Nós perseguimos o acerto, sempre, mas também não escondemos o erro. Fazemos questão: errou, corrige, deixa claro: Cometemos um erro. E essa relação só alimenta a confiança do ouvinte. É muito comum o ouvinte mandar e-mail: Olha, vocês erraram em tal coisa; nós corrigimos, damos o crédito para o ouvinte. Isso é percebido e nós nos orgulhamos disso.
Quantos jornalistas estão envolvidos na cobertura de política?
M.T. – Em Brasília, todo mundo. São quinze. Acabam fazendo de tudo. Porque o rádio tem essa coisa.
Todos fazem tudo em todas as praças?
M.T. – Não. Em Brasília temos até uma divisão de cobertura específica do Congresso, do Palácio do Planalto.
É fixo ou há trocas freqüentes?
M.T. – É mais ou menos fixo. Para poder cultivar fontes. No rádio isso é muito complicado. Esses repórteres ficam fixos por períodos longos, na medida do possível. Sempre somos muito cautelosos com o orçamento. Principalmente agora, com as viagens do presidente Lula. Temos tentado cobrir todas. Quando temos alguma dificuldade, acionamos as afiliadas. Quando sentimos que a afiliada não está muito focada naquilo, mandamos um reforço. Nesse caso escolhemos a praça que está mais perto. É uma outra logística. Os jornais normalmente mandam, não importa para onde, o repórter que cobre o Palácio. Nós mandamos o que é geograficamente mais razoável para o orçamento.
E no Rio de Janeiro?
M.T. – No Rio temos dois repórteres que cuidam mais de política, mas eu não tenho uma cobertura fixa. Aliás, quando eu estava no Globo isso também era uma discussão, porque os jornais deixaram de ter alguém fixo em Assembléia, Câmara de Vereadores. É um monitoramento. A cobertura no Rio é mais de geral. Tem violência, mas tem também BNDES, Petrobrás. Faz-se cidade muito fortemente e uma parcela razoável de economia. Em São Paulo, onde há duas repórteres mais focadas em política, também: cidade muito fortemente, economia. A política em São Paulo tem um peso específico por causa do PT.
Afogados em informações
Uma parte dos “furos” deixam de ser dados simplesmente porque as pessoas não param para tirar as conseqüências do que estão noticiando.
M.T. – Estamos afogados. A quantidade de informações é tão grande. Cobrir três CPIs ao mesmo tempo foi difícil. Tomamos muito susto, pelo volume, mas tivemos a experiência de cobrir crise em tempo real. Isso deu autonomia. Quando se tem o entrevistado, ou a categoria política confrontada com o tempo real, fica mais difícil fugir da raia. Saiu no rádio, deu na internet, está ali. Joga-se muito mais luz nas coisas que estão acontecendo.
Alguns assuntos apareceram e depois submergiram completamente, ou quase.
M.T. – Às vezes eu converso com o Estevão Damázio, que é o chefe da sucursal de Brasília, está na CBN há dez anos cobrindo política: Que história vamos pegar? Porque eram tantas, novas, se sucedendo diariamente, que nós pulávamos de uma para outra. Foi raso, foi. Qual foi a vantagem? Primeiro, o aprendizado. Segundo, conseguimos botar em tempo real um volume de informações que mobilizou a sociedade. Cometemos erros? Não tenho a menor dúvida. Perdemos histórias? Aos montes. Alguns personagens se perderam no meio do caminho. Sem contar com os sustos. Eu me lembro que quando a Zilmar Fernandes foi fazer o depoimento eu estava com a linha em outra CPI. Eu tinha que escolher. Não posso ter linha em cada CPI. Aí entra o Duda! Tira imediatamente, enquanto isso a gente bota na TV Senado… Sem medo de ser chamada de Poliana, acho que nos saímos bem. Erramos, sepultamos coisas que provavelmente vão ficar sepultadas, porque, no calor da coisa… Mas acho que os principais assuntos foram administrados.
Minha competição é com rádio? Sei lá, é com a GloboNews, talvez, com os sites, é muito mais amplo o leque de veículos com que você está jogando o jogo.
Explicadores de mundo
Antigamente no rádio havia comentaristas…
M.T. – Informação é como uma commodity, aquele volume, vamos marcando, tentamos delimitar: esses serão assuntos que também virarão entrevistas que os âncoras vão fazer e pautar, eles têm bastante autonomia, cada um é como um editor de seu programa. E os nossos comentaristas entram muito para pontuar. Pedimos muita ajuda a eles: Lúcia Hippolito sempre tira dúvidas. Ela tem toda a memória histórica. Sardenberg é também um super-âncora de economia. Às vezes ele ouve e diz: “Estamos errando, a análise é esta”. Os nossos explicadores de mundo são, na política, a Lúcia, o Merval (Pereira), o Franklin (Martins); na economia, a Míriam (Leitão), Sardenberg, Mauro Halfeld em outra faixa. Isso ajuda muito, porque a própria redação, que é relativamente jovem – tem alguns mais velhos, como o Estevão –, ouve muito essas pessoas.
Quai são as principais deficiências?
M.T. – Uma delas é a necessidade de ter uma sofisticação cada vez maior dos assuntos que é preciso explicar para o ouvinte, ou para o leitor, e não se têm subsídios para isso. Num tempo muito curto, tempo real. Em Brasília há um problema crônico. É uma equipe pequena para o volume de noticiário produzido ali. Alimenta regiamente a rede, hoje em dia. Os próprios jornais não têm mais cobertura setorizada nos ministérios, como há 15 anos. Era um varejão. Não dava para continuar dessa forma. Temos mais instrumentos e mais força para conseguir informar bem, mas ao mesmo tempo temos menos braços.
Mas editar sempre foi uma escolha. Todo dia de manhã as principais praças mandam a pauta. Brasília, toda terça, quarta e quinta tem dez, doze itens e, embaixo: “Ficará difícil a cobertura”:… Temos que negociar. Às vezes eu não concordo com que vem abaixo do “Ficará difícil…”. Há assuntos que serão acompanhados por agências de notícias.
Eu gostaria, talvez até pela minha formação de jornal, de ter tempo para investir em grandes histórias. Faz falta. Os jornais hoje têm um, dois, três repórteres que ficam fora da pauta um mês, dois meses. Ainda não consegui fazer isso. Só pautas produzidas que levaram dois meses porque o repórter ficou fazendo outras coisas. A Tânia Morales fez uma matéria que eu achei ótima, com internos da Febem (“Meninos da Febem”). Eles tinham uma oficina e ela participou de várias sessões. Não precisa ir fazer uma matéria na Amazônia – eu até gostaria –, já basta tirar um repórter duas ou três semanas do dia-a-dia. Ainda é difícil. É tão clamorosa a demanda por gente para fazer as coisas que acabamos ficando com pena de fazer isso, para não sobrecarregar o resto da equipe.
Eu gostaria que nós pudéssemos dar mais ferramentas em vários campos de ação que cada vez são mais solicitados. Eu parei por causa das CPIs, mas fazíamos grandes conversas com especialistas. Vieram vários. Sobre economia, José Roberto Mendonça de Barros, Gesner de Oliveira, Rubens Barbosa. Algo que se faz no Conselho Editorial das Organizações Globo, eu trouxe o modelo para cá. É muito importante parar para pensar sobre alguns assuntos, às vezes um âncora nem tem como fazer isso. E a redação gostava muito. Pretendo retomar em 2006. Seria ideal poder focar mais em política, em economia, para aqueles que gostam em meio ambiente, a respeito do qual somos de uma ignorância crassa. Eu trouxe o André Trigueiro e acho que conseguimos no sábado e no domingo ter uma audiência muito boa à tarde, na Revista CBN, ele é muito participante. Meio ambiente na verdade é política e economia, são todas as decisões que dizem respeito à espécie humana.
Eleições 2006
Quais são os planos para a cobertura das eleições deste ano?
M.T. – Repetir a sinergia de 2002, ou seja, repórteres da rádio na redação do Globo, e uma colaboração dos repórteres do Globo, também.
Os repórteres de rádio escrevem matéria para o Globo?
M.T. – Escrevem. Escreveram em 2002.
E repórteres do jornal vão entrar no rádio?
M.T. – Sim. É uma diáspora, vai candidato para todo canto do país e é preciso hoje em dia ver qual é a logística para cobrir isso. Terei, como todo ano, um encontro de afiliadas, no qual sempre trabalhamos muito a questão de conteúdo. É claro que temos afiliadas melhores e outras não tão boas. Queremos estreitar os laços com aquelas que têm bons profissionais, investem nisso e se orgulham disso, o que é muito bom.
Esperamos fazer com os candidatos entrevistas grandes, e voltar no segundo turno para fazer isso. Jogar bastante foco nas disputas das principais praças, ou seja, o governo de São Paulo – vai haver aí uma cobertura diária muito forte –, o governo do Rio de Janeiro e algumas outras praças. E ter muita análise, com a ajuda dos comentaristas. Fizemos um reforço de orçamento para termos deslocamentos dos nossos repórteres. Estamos fazendo alguma coisa do arco-da-velha? Não tem nenhuma idéia que seja de virar de pernas para o ar essa cobertura. É estar presente.
Como todas as eleições, a de 2006 terá características próprias. O que se espera de diferente?
M.T. – Acho é que essa vai ser a eleição de tempo real, muito mais intensamente do que a de 2002. Uma eleição com blog, que não havia em 2002. Vamos ter um volume muito maior de informação para peneirar. Teremos que ficar atentos contra tentativas de manipulação. Há até uma discussão que não cabe na rádio: as redações estão preparadas para receber fotos de denúncia e saber decidir na hora se teve alguma manipulação na imagem? Os americanos chamam de We Media (http://www.hypergene.net/wemedia/weblog.php) . Eu gostaria de ter um tempo sabático para estudar isso. Se pensarmos que há 250 milhões de câmeras digitais, blog de todo jeito, fotolog, estamos chegando num limiar de produção que deve caminhar para o interativo, talvez. Vamos desconhecer essa massa toda que está produzindo e pensando e quer espaço? Como isso vai aparecer nas eleições? É um momento bastante estimulante. Vai ser uma eleição de blog, de eleitor fazendo foto de candidato.
Novas vozes
Existem fenômenos novos ainda pouco entendidos e um novo protagonismo popular na sociedade brasileira. Como trabalhar com isso?
M.T. – Eu li recentemente no Valor uma reportagem sobre uma pesquisa que a Giovanni fez para um cliente. Perfil de mulheres de classe C. Antigamente pilotavam fogão, agora sentem angústia por não conseguirem entender os filhos. Existe um movimento que não é de classe A-B, um enorme movimento de um contingente parcialmente invisível, ou pouco visível, querendo entender este mundo muito mais complicado. Quem são os guias? Guia não é mais “este locutor que vos fala”, de voz maviosa. Não. É quem vai dar ferramentas para entender o mundo. Algo que nós achávamos que era prerrogativa do leitor de jornal, classe média, do público da CBN, mas não é só isso. Na verdade há um grande movimento subterrâneo, e sairá na frente quem entender como fornecer esse instrumental.
Ver também:
“Rádio all news vai fazer 15 anos no Brasil”
“Heródoto Barbeiro e Luiz Henrique Iagelovic falam da CBN”.)