O Estado de S.Paulo
O artifício de vender uma verdade na manchete e entregar outra na reportagem é comum nos grandes jornais. O maior prejuízo desse truque reside no fato de que manchetes, títulos, legendas e textos-legendas têm índice de leitura muitas vezes maior do que as reportagens. A percepção dos leitores, portanto, depende muito mais dos elementos de maior leitura. No caso da manchete de hoje do O Estado, prevalece, portanto, a verdade de que a ex-secretária aprofundou suas acusações com novos detalhes e revelações – o que não é verdade.
Não é a primeira vez que O Estado de S.Paulo escorrega em ato falho. No sábado passado, o jornal trouxe em manchete principal que ‘Escândalo já afeta popularidade de Lula’, em repercussão aos números da pesquisa do Ibope feita para a CNI (Confederação Nacional da Indústria). A reportagem ‘Denúncias de corrupção derrubam aprovação de Lula e do governo’ compara as opiniões dos entrevistados colhidas nas pesquisas de março e junho deste ano.
Os números brutos da pesquisa são os seguintes:
– a confiança no presidente da República caiu de 60% para 56%;
– os que não confiam no presidente da República cresceram de 34% para 38%;
– os que aprovam o desempenho do presidente caíram de 58% para 55%;
– os que desaprovam cresceram de 35% para 38%;
– os que consideram o governo ótimo diminuíram de 39% para 35%;
– os que consideram regular mantiveram-se em 41% nas duas pesquisas;
– os que qualificam o governo Lula como ruim ou péssimo subiram de 17% para 22%.
Todos os números indicam, sem dúvida, que a porcaria espalhada pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, afetou o presidente da República e seu governo. Mas a análise desses mesmos números não oferece a mesma conclusão, se for considerado o detalhe – ignorado pelo enfoque dado pelo O Estado de S.Paulo – de que a margem de erro da pesquisa é de 2,2%.
Isso quer dizer que todos os números apresentados acima devem ser acompanhados de 2,2%, para mais ou para menos, para oferecer uma interpretação, no mínimo, mais honesta. Feitas as continhas de adição e subtração, o que se tem é empate em todos os indicadores, com exceção dos que consideraram o governo ruim ou péssimo, que cresceram 0,06%.