Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estado se desculpa e atribui erro a ‘fontes’

Na última segunda-feira, publiquei, em seguida a um artigo sobre outro assunto, o seguinte P.S.: ‘Barriga do Estadão deixa TV em polvorosa’.

Dizia:

‘Em título de página inteira, sobre matéria assinada por Jotabê Medeiros, o Estado anuncia nesta segunda-feira “Cultura elege hoje novo presidente”. Certos de que eleição seria – e será – no dia 7 de maio, muitos dos 47 membros do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (Rádio e TV Cultura) imaginaram o pior – não um grave erro jornalístico, mas um golpe político no jogo duro da sucessão do presidente da emissora, Marcos Mendonça.Segundo a imensa barriga do jornal, o presidente indicado pelo governador José Serra, jornalista Paulo Markun, “deverá ser referendado na manhã desta segunda’. Está dando o maior rebu.’

Hoje, em matéria intitulada ‘TV Cultura marca reunião para dia 7’, com o sub-título ‘Ao contrário do que publicou o Caderno 2 na segunda-feira, assembléia que elegeria novo presidente não ocorreu esta semana’, o jornal culpa
‘fontes da emissora consideradas fidedignas, mas que não se revelaram verdadeiras’. Eis o texto, que por sinal vai muito além disso
:

‘A assembléia do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) que elegeria o novo presidente da instituição ficou para o dia 7 de maio, segundo a Assessoria de Imprensa da instituição. O Caderno 2 errou ao informar, em sua edição de segunda-feira, que a assembléia seria realizada naquele dia. A informação foi repassada à reportagem por fontes da emissora consideradas fidedignas, mas que não se revelaram verdadeiras. A editoria pede desculpas por eventuais danos causados. Segundo informações provenientes da emissora, quatro conselheiros da TV Cultura, apesar de terem recebido comunicado específico sobre a reunião e pauta (dia 7 de maio), tomaram a informação do Estado como verídica e compareceram à sede da instituição.

Na mesma reportagem, um quadro comparava a gestão dos quatro últimos presidentes da instituição. Com relação a isso, o Estado publicou na edição de terça, em sua seção Fórum dos Leitores, carta do atual presidente, Marcos Mendonça, com o seguinte teor: ´Pesquisas realizadas nos últimos dois anos apontam um salto de qualidade. Segundo o Datafolha de dezembro de 2006, a programação da TV Cultura é avaliada como ótima e boa por 77% dos entrevistados – só superada pela TV Globo. Entre os telespectadores habituais da TV Cultura, a avaliação positiva sobe para 93%, a maior taxa entre todos os canais avaliados (TV Globo e Record, 88%). Foram ouvidas 1.224 pessoas.´

Segundo a reportagem do Caderno 2 apurou e publicou, o jornalista Paulo Markun deveria ser o candidato único, substituindo Marcos Mendonça, há três anos no cargo. Tradicionalmente, há reeleição na fundação, mas o governo teria se manifestado contrário à recondução de Mendonça. Em seu site pessoal, o próprio Paulo Markun reproduziu reportagem da Folha de S.Paulo que o considerava já eleito e marcava sua posse para junho.

Em seu blog, Jorge da Cunha Lima, o presidente do Conselho Curador, fez publicar: ´Não havia nenhum candidato, pois só há candidatura, pelos estatutos da Fundação, quando 8 membros do Conselho Curador registram o nome do candidato até cinco dias antes das eleições. Não há nenhum candidato indicado para presidir o Conselho, pois essa indicação é feita na hora da eleição, conforme tradição de 40 anos. As eleições serão realizadas no dia 7 de maio, para escolher o Presidente da Fundação Padre Anchieta, o Presidente e o Secretário da Mesa do Conselho e um conselheiro para a vaga de Persio Arida, que se demitiu por morar na Inglaterra. Conforme tradição, inúmeros nomes tem sido sugeridos por conselheiros eletivos, representantes da sociedade civil, por conselheiros representantes de instituições e por conselheiros que representam o governo, sobretudo após manifestação pessoal de Marcos Mendonça, feita a amigos e membros do Conselho de que não será candidato à reeleição, pois considera cumprido o seu grande trabalho a frente da instituição, no mandato que lhe foi conferido.´

O blog prossegue: ´Alguns nomes já foram apreciados pelos conselheiros em reuniões informais, que sempre precedem a indicação final. Desses nomes sobressaíram duas indicações de grande relevância, entre outras, o de Eugenio Bucci e o de Paulo Markun. Como Bucci preside, com enorme eficiência e reconhecimento, a Radiobrás, seu nome sempre foi considerado bom, mas inviável. O nome de Paulo Markun ganhou rápido reconhecimento, pois é nome destacado entre os jornalistas da casa, como apresentador do Roda Viva. É homem de comunicação.Tem um passado político que honraria qualquer jornalista. Como intelectual tem importantes obras publicadas. Os representantes do governo no conselho curador também tem elogiado o surgimento desse nome como possível candidato.´

Outro trecho da reportagem do Estado, sobre Paulo Markun, dizia: ´Em um dos seus livros, ele (Markun)descreveu sua situação política na época da ditadura militar. Um dos episódios mostra a dificuldade de encontrar emprego após a prisão, e a peregrinação pelos jornais. Um dos jornalistas que, em lugar de ajudar, o aconselhou a desistir e sair do País foi Boris Casoy, então executivo na Folha de S.Paulo.` Sobre isso, responde Casoy em e-mail ao Estado: ´A afirmação não é verdadeira. Prova disso é que,mesmo depois de sua prisão, enquanto fui editor-responsável da Folha, o sr. Markun, apesar das pressões pessoalmente por mim sofridas e também pela empresa, trabalhou normalmente, sem quaisquer restrições, na redação daquele jornal.´

Segue o trecho do livro em que a reportagem se baseou, em relato do próprio Markun: ´Ao sair da prisão, eu estava desempregado (…) Fora demitido da Cultura retroativamente, no período em que Vlado ainda estava no comando de jornalismo. Na emissora, só Fernando Faro me recebeu. (…) Mas emprego mesmo ninguém tinha coragem de me oferecer. Depois de alguns meses nessa situação, marquei encontro com alguns jornalistas que tinham cargo de direção. No café de um hotel no centro da cidade, conversei com Boris Casoy, editor-chefe da Folha de S.Paulo, Ruy Lopes, chefe da Sucursal de Brasília, e João Baptista Lemos, agora na sucursal do Jornal do Brasil. Eles foram claros: como nenhuma empresa me contrataria, seria melhor que eu deixasse o País. Naquele mesmo dia, resolvi procurar a alternativa que outros perseguidos políticos tinham tentado anteriormente. Luis Fernando Mercadante, que estava no Jornal da Tarde, conseguiu uma audiência com Ruy Mesquita. Foi uma conversa muito curta: expliquei que estava desempregado, que fora preso por pertencer ao Partidão, que precisava ganhar a vida e que sabia que a família Mesquita não costumava perseguir ninguém por causa de sua ideologia. Uma semana depois, estava contratado.` (página 160 do livro Meu Querido Vlado – A História de Vladimir Herzog e do Sonho de uma Geração , editora Objetiva, 2005′

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