O avanço da internet e da digitalização será tão acelerado e intenso nos próximos 20 anos que ambas se tornarão comuns como a eletricidade, a roda e os motores de combustão interna, perdendo o glamour e a visibilidade atuais. É o que prevê uma pesquisa feita pelo Pew Research Center Internet Project, dos Estados Unidos, com base em entrevistas com 1.867 pesquisadores, programadores e empresários para marcar a passagem do 25º aniversário da criação da Web.
O trabalho, que será desdobrado em quatro outros relatórios a serem divulgados até dezembro, foca especialmente na chamada “internet das coisas” (Internet of Things) , a denominação genérica dada à interação entre processadores eletrônicos instalados em quase todos os equipamentos que nos cercam e também em nossos próprios organismos.
O documento afirma que apesar do ceticismo de muitos integrantes de gerações mais velhas, a internet e a digitalização estão mudando irreversivelmente a nossa forma de viver ao provocar mudanças drásticas, especialmente em áreas como finanças, entretenimento, comunicação (jornalismo, publicidade e literatura) e educação. É um novo marco na história da humanidade, cujas consequências nós estamos apenas começando a sentir.
Os participantes da pesquisa destacaram o fato de que em 2008 o número de processadores interconectados superou o total de habitantes do planeta, iniciando um crescimento exponencial que em 2013 chegou a 13 bilhões e vai passar dos 50 bilhões em 2020, segundo projeções feitas por engenheiros da empresa Cisco, fabricante de 90% dos equipamentos de interconexão entre chips eletrônicos.
Como todas as inovações tecnológicas ao longo da história da humanidade, a mudança de paradigmas sempre gera resistências por pessoas pouco informadas ou que temem sair da sua zona de conforto. Se o estado atual da internet já provoca tantas resistências, a situação tende a se complicar ainda mais com o avanço da “internet das coisas”, que nos levará a um ambiente no qual a separação entre o mundo material e o imaterial se tornará ainda mais difusa e fluida.
O jornalismo está no meio de tudo isso como um dos setores mais afetados pelas mudanças tecnológicas em curso. O avanço da digitalização e da telemática na comunicação humana tende a criar um novo padrão informativo no qual o mercado deixará de ser a referência principal na produção de notícias para ceder lugar à preocupação prioritária com a geração de conhecimentos socialmente relevantes.
A natureza imaterial da digitalização fez com que os segmentos econômicos que também lidam com matérias-primas não palpáveis acabassem sendo os mais afetados, como é o caso do jornalismo. Não é apenas a indústria da comunicação que teve o seu modelo de negócios afetado drasticamente pela eliminação de intermediários como os jornais, editoras, gravadoras e empresas distribuidoras de filmes.
A mão de obra nesses setores também está tendo que mudar comportamentos e valores, o que nem sempre é um processo tranquilo e isento de atritos e frustrações pessoais. A principal mudança é a demanda de atualização constante do acervo individual de conhecimentos para acompanhar a inovação dos processos tecnológicos. Se até agora gastávamos muito tempo na produção mecânica de um texto, vídeo ou áudio, os novos equipamentos digitais permitem que a criatividade passe a ser o grande diferencial .
A divulgação dos resultados da pesquisa do Centro Pew de Pesquisas sobre o Projeto da Internet incomoda os que têm dificuldade em digerir os efeitos das mudanças que estamos testemunhando, ao mesmo tempo que alimenta a excitação futurológica dos que esperam ganhar muito dinheiro com as novas tecnologias. Mas sua principal virtude está em fornecer material para quem acha que deve refletir sobre os dados e depoimentos publicados.
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Internet das coisas vai prosperar em 2025 – Pew Research Center [em inglês]