Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Europeus advertem: a mídia não pode tudo

Deu na Folha:


O Parlamento Europeu deve votar hoje uma resolução exortando os países-membros a ‘não abusar’ da liberdade de expressão e a não usá-la para ‘incitar o ódio religioso ou divulgar declarações xenófobas e racistas’.


A proposta foi feita por todos os sete grupos políticos do Parlamento depois da eclosão de violentos protestos no mundo islâmico por conta da publicação, na Dinamarca, de charges do profeta Muhammad e de sua subseqüente reprodução por outros órgãos da imprensa européia e mundial.


O texto, que pede o ‘uso responsável’ da liberdade de expressão, também condena a violência dos protestos, cujo saldo em pouco mais de duas semanas é de 18 mortos.


‘A liberdade de expressão é um bem precioso. Mas seu exercício prevê a responsabilidade do indivíduo’, declarou o secretário de Estado para Assuntos Europeus da Áustria, Hans Winkler. A Áustria hoje detém a presidência rotativa do bloco. Winkler afirmou que a liberdade de expressão ‘tem limites’, sobretudo quando ‘fere suscetibilidades religiosas’.


[Mais ainda, acrescento eu, quando insufla a xenofobia.]


Mas o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, advertiu contra a censura – o Parlamento estuda criar um código de conduta para a mídia, ao qual os veículos obedeceriam voluntariamente – e se solidarizou com os dinamarqueses, ‘um dos povos mais abertos e tolerantes da Europa e do mundo’. [Fim da citação].


Os podres da Dinamarca


“Um dos povos mais abertos e tolerantes da Europa e do mundo”?


Domingo passado o New York Times publicou um artigo do jornalista Martin Burcharth, correspondente nos Estados Unidos do jornal dinamarquês Information. Trechos:


“Nós, dinamarqueses, ficamos cada vez mais xenofóbicos com o passar dos anos. A publicação das charges só pode ser vista no contexto de um clima de disseminada hostilidade em relação a tudo que seja muçulmano na Dinamarca”.


“Há mais de 200 mil muçulmanos nesse país de 5,4 milhões de habitantes. Poucas décadas atrás, não havia nenhum. Não surpreende que o Islã seja visto por muitos com uma ameaça à sobrevivência da cultura dinamarquesa.”


“Durante 20 anos, os muçulmanos na Dinamarca não podiam construir mesquitas em Copenhage. Mais ainda, não há cemitérios muçulmanos no país, o que significa que os corpos de muçulmanos mortos ali devem ser transportados para as suas terras de origem, a fim de terem um sepultamento adequado.”


“Depois das queimas de bandeiras [em países islâmicos], a mídia dinamarquesa passou a se referir à cruz branca sobre campo vermelho na bandeira nacional como um símbolo cristão.”


“A Dinamarca é um dos países mais seculares da Europa. Apenas 3% dos dinamarqueses vão à igreja uma vez por semana. Agora, a sua bandeira se tornou o símbolo mundial do desprezo da Dinamarca por outra religião mundial.”


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