Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Falta de responsabilidade com o dinheiro do leitor


Não dá outra: toda semana que antecede o anúncio da Selic, a taxa básica de juros, pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, os jornais despejam dezenas de ‘avaliações do mercado’ – vindas, em geral, de representantes de instituições de segunda linha. Num mês são ‘analistas’, no outro ‘especialistas’, ou ainda ‘estrategistas’, mas, no fundo, são sempre os mesmos – e, na maioria das vezes, falando por instituições financeiras que têm participação insignificante nos números globais do mercado financeiro.


Para essas fontes, o contato com o jornalista premido pelo horário do fechamento ou pelo tempo real, é uma oportunidade de publicidade grátis. Mais do que isso: se o dia estiver dominado por rumores ou boatos, aumenta a possibilidade de fomentar a especulação em benefício próprio. A fonte pode errar todas as vezes nas suas ‘avaliações de mercado’ – mas tudo bem. Quando os números verdadeiros forem revelados, será dito que a realidade esteve aquém ou além das ‘expectativas do mercado’.


Nos países onde as relações da imprensa com o mercado financeiro são mais sérias e transparentes, a ‘percepção do mercado’ funciona de maneira diferente. Ao contrário da meia-dúzia de ‘especialistas’ ou ‘analistas’ que comparece nos jornais brasileiros ‘falando pelo mercado’, a avaliação é apurada sobre um número de fontes muitas vezes maior. O processo é simples, mas exige algum planejamento e trabalho. Começa com o envio de questionários idênticos para diretores das empresas, que ali colocam suas opiniões e projeções sem que seja preciso se identificar. Quando os questionários retornam, é feita a tabulação com as respostas.


A transparência do processo de avaliação é tão importante para os jornais que é o método de apuração da tendência do mercado – e não a avaliação em si – que abre as reportagens. Não se trata apenas de assegurar a isenção na transmissão de informações que lidam com interesses milionários, mas de cuidado e responsabilidade dos jornais com as aplicações e poupanças de acionistas ou investidores.