Se não há nenhuma inverdade na nota em que a Rede Globo explica por que se recusou a fazer uma entrevista com o presidente Lula – e tudo indica que não há, do contrário o governo já a teria contestado -, o pessoal do Planalto pisou em falso.
O pisada consistiu em querer decretar quanto tempo duraria a emissão da entrevista gravada e quando deveria ser transmitida.
A idéia, comunicada à Globo na sexta-feira da semana passada, era essa: entre a terça e a quarta seguintes, Lula daria entrevistas a cada uma das redes nacionais de TV, em sequência determinada por sorteio; elas teriam que levar o material ao ar, sempre com 8 minutos de duração, nos seus principais telejornais.
As demais redes aceitaram, mas a Globo criticou, com razão, o ‘modelo decidido unilateralmente’.
Os termos de uma entrevista ‘devem ser discutidos pelas partes, previamente, o que não foi feito’, ponderou a emissora.
Faltou combinar com os russos, diria Mané Garrincha.
Além disso, o jornal O Globo tinha acabado de dar um pingue-pongue de três páginas com o presidente.
‘Tal entrevista”, argumenta a nota, ‘foi tema de uma reportagem no `Jornal Nacional´ de segunda-feira, primeiro dia após a publicação. Isso faz uma nova entrevista ao vivo, já no dia seguinte, perder muito em ineditismo’.
O texto informa ainda que a reação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência foi a de considerar ‘naturais’ as suas ponderações.
O que surpreende é o fato de ser quem é o titular da Secretaria. Franklin Martins é um jornalista de topo de linha, traquejado – ou seja, conhece na intimidade o outro lado do balcão.
Por que ele foi servir um prato feito, sabendo, como decerto sabe, que o simples e liso era chamar o pessoal das redes e propôr o arranjo que quisesse? Se não houvesse acordo, aí se veria.
De mais a mais, para que ditar a ocasião da ida ao ar? Será que, sem isso, alguma emissora jogaria para o meio da madrugada uma exclusiva com o presidente da República?
Apesar de tudo, a Globo não ficou de mal com o Planalto. Pediu – e tornou público na nota que pediu – uma entrevista de fim de ano com o presidente, a ser feita ‘em tempo oportuno, segundo regras estabelecidas de pleno acordo’.
Martins respondeu que encaminharia o pedido, cujo atendimento dependeria da agenda do presidente. E avisou desde logo que o papo não iria além dos 8 minutos dados aos concorrentes, por uma questão de equanimidade.
Agora, sim: jogo jogado.