A coluna Painel da Folha de S.Paulo de ontem trouxe a nota ‘Estilo Chávez’, comentando que ‘despertou curiosidade a jaqueta algo militar, com brasão da República no peito, usada por Lula no evento de partidos de esquerda da América Latina’.
Há mais uma leitura possível – e não necessariamente a de que Lula esteja copiando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, como traz o título da nota. Para compreendê-la, é preciso voltar à capa da revista Veja da semana passada. Nela, o brasão de armas da República Federativa do Brasil recebeu a aplicação da estrela do PT sobre a estrela do Cruzeiro do Sul, e a inscrição ‘República do Zé’, em referência ao ex-ministro-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu.
Ao apresentar-se com a jaqueta estampada com o brasão da República – aliás, ao contrário do que disse a nota da Folha, nada militar, pois não trazia identificação de qualquer das três armas – Lula talvez tenha tentado passar a mensagem de que, para ele, a estrela que vale é a do brasão, e que a sua República não é a ‘do Zé’. Ambos os sinais encaixam-se na estratégia de distanciamento dos negócios do PT que Lula tenta passar para a opinião pública.
Mas se for correta a interpretação de que o presidente quis imitar o estilo de seu colega venezuelano, apesar das chamas da fogueira da crise da CPI dos Correios e do mensalão se aproximarem cada vez mais do Palácio do Planalto, o presidente pode estar padecendo do mal que, em psiquiatria, chama-se ‘Estado Crepuscular’. O nome tem tudo a ver. O Estado Crepuscular, na maioria das vezes, dá a falsa aparência de que o paciente está compreendendo a situação, mas sua percepção do mundo real é imperfeita ou inexistente. O dicionário da Sociedade Paulista de Psiquiatria Clínica diz ainda que ‘nesse estado, o paciente parece estar totalmente voltado para dentro. Perambula como que ausente psiquicamente, automático e sem objetivos claramente definidos’. É, faz sentido.