Faça o que você fizer neste domingo, não perca o seu tempo lendo a matéria que rendeu a bombástica manchete do dia na Folha – ‘47% dos brasileiros se dizem de direita’ -, em cima de uma pesquisa do Datafolha.
Porque não se pode concluir rigorosamente nada deste e dos demais números – ‘23% se dizem de centro e apenas 30%, de esquerda’. Pois:
1. A pesquisa não ofereceu aos pesquisados nenhuma sugestão do que esses termos podem querer dizer – ou, se ofereceu, a matéria não informa.
2. A matéria tampouco oferece ao leitor uma indicação do que os pesquisados entendem por direita, centro e esquerda. É legítimo supor que uma parte dos brasileiros acha que ser ‘de direita’ é ser ‘direito’, ‘uma pessoa direita’.
3. Temas culturais que em outros países costumam separar nitidamente a população em direitistas, centristas e esquerdistas, e por isso mesmo servem de referência a estudos sobre as inclinações da opinião pública – legalização do aborto e da maconha, adoção da pena de morte e, ainda, redução da maioridade penal – não servem, nessa pesquisa, como divisores de águas.
Em todos os lados do espectro ideológico prevalecem, praticamente sem diferenças estatísticas dignas de nota, as posições conservadoras: a lei que restringe o aborto a casos de estupro ou de risco para a gestante ‘devem continuar como está’; o consumo de maconha ‘deve continuar proibido’, a maioridade penal ‘deve ser reduzida de 18 para 16 anos’ e a pena de morte ‘deve ser adotada no Brasil’.
4. Por fim, 47% dos eleitores declarados de Lula, e 39% dos de Heloísa Helena se consideram de direita – como os 53% de Alckmin, que se diz de centro.
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