A Folha de S.Paulo reserva o alto de sua primeira página de hoje para reivindicar a primazia pelo estouro da crise política. O calendário do jornal passa por cima da divulgação da fita com cenas de corrupção explícita do ex-diretor dos Correios, Maurício Marinho, fornecida para publicação na revista Veja, da edição de 18 de maio, para cravar os ‘100 dias da crise’ a partir da entrevista que publicou com Roberto Jefferson (PTB-RJ). A explicação que o jornal traz para o registro da efeméride é supositória, ao dar como certo que a denúncia trazida pela revista no dia 14 de maio, dia em que começa a ser distribuída, ‘o governo já contava com o êxito da manobra que abortaria a criação da CPI (dos Correios). Para a Folha, a crise começou de verdade com a entrevista de Jefferson que publicou no dia 6 de junho. ‘Desde então, o governo Lula mergulhou na sua mais profunda crise e CPIs (sic) já reuniram várias evidências de que parte da base aliada foi alimentada por propina patrocinada pela cúpula do PT, que desmoronou’. Trata-se de uma meia-verdade. A entrevista de Jefferson à responsável pela coluna Painel, Renata Loprete, publicada no dia 6 de junho, riscou o fósforo sobre a gasolina deixada pela capa da revista Veja do dia 1º de Junho, quando o mesmo Roberto Jefferson foi identificado como ‘o homem-bomba’ por causa de suas ameaças ‘de levar junto Dirceu, Sílvio e Delúbio’, caso fosse incriminado pela CPI dos Correios. O maior mérito da entrevista foi tornar Jefferson réu confesso, motivo pelo qual sua cassação é dada como líquida e certa na sessão da Câmara prevista para amanhã. Jefferson usou a Folha de S.Paulo na escolha da data para publicação da entrevista, para ele um trunfo estratégico que poderia interromper as investigações da Polícia Federal sobre seus correligionários dos Correios e do IRB – Instituto de Resseguros do Brasil. Mas seu plano não deu certo. Cinco dias depois, dia 12 de junho, um domingo, ele voltou à carga, na mesma Folha, trazendo à luz a figura do publicitário Marcos Valério e a expressão ‘mensalão’. Talvez a disputa pela primazia da divulgação dos fatos que geraram a crise política cresça. Em mais de uma edição, Veja atribuiu o início da confusão à divulgação da fita com Maurício Marinho, produzida por um araponga de Brasília, que graciosamente a entregou para publicação.