As apresentações dos principais porta-vozes do governo nos dois primeiros dias do Fórum Nacional de TVs Públicas mostraram dois grandes enfoques da questão.
O ministro chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Franklin Martins, deixou claro que o governo vai implantar uma rede nacional de televisão pública e já tem planos sobre como encaminhar a questão.
Por seu lado, o Ministro da Cultura, Gilberto Gil prefere o diálogo e a diversidade de enfoques como estratégia para chegar ao mesmo objetivo. Dois enfoques que mostram duas maneiras de fazer política e de encarar a questão público/estado.
A posição de Franklin está na linha do dirigismo estatal que mesmo sem impor assume, no entanto, um papel protagônico, alavancado pelo gigantismo do governo federal. É a linha classica dos administradores estatais, que partem do principio de que se não mostrarem serviço, serão considerados vacilantes e portanto relegados a um segundo plano na ribalta do poder.
Gil ganha força no lado oposto do espectro. Não porque suas posições sejam melhores do que as de Franklin , mas simplesmente porque encarna a figura do não político. O ministro da Cultura está criando uma estrutura que não tem a cara tradicional do poder e portanto passa ao largo da desconfiança popular em relação à política.
Ao apostar no diálogo, na interatividade e na diversidade, Gilberto Gil se coloca dentro da tendência mais atual em matéria de discussão de temas complexos, como é a TV pública. A cultura predominente nos meios políticos e governamentais impede seus ocupantes de ver que não dá mais para usar soluções dirigistas para questões onde só os consensos amplos, e custosamente desenvolvidos, podem levar a soluções minimamente estaveis.
O mundo está complexo demais para que soluções salvadoras surjam de cabeça de poucos administradores iluminados.
A mesma lógica nos leva a acreditar que o I Fórum Nacional de TVs públicas não chegará a soluções definitivas. É impossivel dada a diversidade de realidades mostradas durante os debates.
Mas duas coisas ficaram mais ou menos claras. Primeiro, que a questão da TV Pública foi colocada na agenda de debates da opinião pública, mesmo que a TVs comerciais tenham feito uma cobertura mínima do evento. Isto nunca havia acontecido antes e as verdadeiras consequências ainda estão por surgir.
A segunda questão é menos evidente, mas começa a se delinear. A televisão pública pode ser o futuro da TV, porque a tendência atual é no sentido da ampliação da participação da audiência em geral. Neste sentido, as TVs púiblicas podem recuperar o tempo perdido, caso percebam que o pior erro agora é imitar a TV comercial, que começa a viver um período crítico de reavalição do seu papel e do seu modelo de ngócios.
Público passou a ser uma palavra chave na chamada Nova Economia onde o importante passam a ser as pessoas e não mais as mercadorias, bens e serviços. Portanto, o modelo da TV tende a ser muito diferente do atual, como mostram algumas experiências em cusro noutros países. A TV pública tem que pensar, acima de tudo no público.
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