Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fumaça ou fogo?

Atribuir o desmatamento na Floresta Amazônica ao crescimento do agronegócio é comprar briga feia com as lideranças rurais. A Folha tocou recentemente neste vespeiro, relatando em Ciência um levantamento realizado por cientistas brasileiros e americanos. Eles cruzaram imagens de satélite com levantamentos em campo e concluíram que 5.400 quilômetros quadrados de floresta viraram campo de soja em Mato Grosso entre 2001 e 2004. O estudo foi publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org).


Os autores do estudo demonstram que existe forte correlação entre o preço da soja e a taxa de desmatamento. Coincidência ou não, o número de queimadas diminuiu quase pela metade no Brasil este ano (maio a agosto), em comparação com o mesmo período dos últimos quatro anos (2002 a 2005). Há quem atribua esta queda à crise agrícola.


Há várias ONGs lá fora que dizem que a Floresta Amazônia está virando pasto para a produção de hambúrguer barato. ‘Besteira!’, diz Pratini de Moraes, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). ‘Isto é muito comentado na Irlanda, que é o único país da Europa que tem excedente de carne. Eles usam muito este argumento. Mas é um argumento sem qualquer substância. Nenhum frigorífico localizado na Amazônia tem autorização para exportar carne. Há alguns frigoríficos pequenos por lá, que abastecem o mercado local’, diz Pratini de Moraes.


Há mais fumaça do que fogo?


‘Nós temos pecados. Temos problemas de queimadas ainda. O governo ainda controla isto como deveria. Nós somos a favor de um controle rigoroso das queimadas’’, afirmou Pratini.


Recuperar pastagens


Uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa poderá reduzir significativamente a abertura de novas áreas para a produção agrícola e de pastagens. Trata-se da integração lavoura-pecuária. Segundo dados da Embrapa, o Brasil tem 40 milhões de hectares de pastagens degradadas. Em São Paulo, há mais de 1,5 milhão de hectares de pastagens degradadas. A integração consiste na diversificação e na rotação das atividades agrícola e pecuária dentro da mesma propriedade. Por meio desta tecnologia, a fertilidade do solo é corrigida com os cultivos anuais. Consegue-se recuperar e reformar as pastagens degradadas, evitar a erosão e quebrar o ciclo de pragas e doenças da monocultura.


O objetivo é produzir pastos, forragens e grãos para alimentação animal na estação da seca. Com essa ferramenta, podemos diminuir o uso de insumos, aumentar a rentabilidade do produtor e reduzir os custos das atividades agrícolas e da pecuária. Mais ainda: valorizar as propriedades.


As vantagens deste sistema foram citadas por Alysson Paolinelli na revista Agroanalysis de agosto último. Segundo ele, recuperar pastos degradados evita o desmatamento para ampliar as áreas de plantio.


‘Quando você recupera uma pastagem degradada a custo baixo, não precisa desmatar para abrir áreas. Você não vai forçar os chamados biomas frágeis. Também consegue diminuir o uso de agrotóxicos. Quem usa este sistema, emprega mais mão-de-obra. A integração está recuperando algumas áreas do Brasil antes inviáveis à agricultura, como o caso do arenito de Caiuá, nas regiões do Sul de Mato Grosso, parte de São Paulo e no noroeste do Paraná. Essas áreas estão sendo usadas hoje para o plantio de soja. Por meio da integração lavoura-pecuária, alguns produtores estão conseguindo tirar entre 60 e 70 sacos de soja por hectare e entre 14 e 18 arrobas por hectare no restante do ano. É só fazer as contas para a gente perceber que esta tecnologia é realmente inovadora e representa uma salvação para o Brasil’’.