O leitor José de Souza Castro, de Belo Horizonte, manda a seguinte informação:
‘Infelizmente, estamos encouraçados e só nos comovemos quando a vítima é uma criança branca, alegre e bem nutrida. Casos como o dessas três crianças da Vila Sapê escorrem pela nossa pele grossa, sem penetrar. Há uns três anos, uma funcionária de um posto de saúde municipal em Belo Horizonte foi assaltada ao parar seu fusquinha numa rua do Bairro Padre Eustáquio. Teve o fusca roubado, foi jogada para fora da porta do passageiro amarrada no cinto de segurança e morreu despedaçada ao ser arrastada por mais de três quilômetros. Sua morte não teve qualquer repercussão na imprensa e nem punição ao culpado. Esse tipo de coisa não pega bem em Minas (os jornais de Belo Horizonte deixaram, desde meados do ano passado, de somar o número de assassinatos na cidade nos fins de semana – em geral, mais de 30 -, para não prejudicar a campanha eleitoral de Aécio Neves à reeleição e, agora, à presidência da República). A carapaça de insensibilidade que criamos é reforçada pela banalização dos crimes e de seu relato pela imprensa. Talvez, se lêssemos mais livros como A Rua das ilusões perdidas, de John Steinbeck, trincasse a couraça e daríamos, então, importância aos dramas vividos pelos humildes à nossa volta.’