O ouvinte José Reis Dualibi mandou antes do Carnaval o comentário abaixo, em que acusa de racista o gerente da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Cristiano Menezes. Como se tratava de uma acusação pessoal, só agora, após a chegada da resposta, é possível publicá-lo.
O comentário:
‘A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, tendo como seu presidente regional o Ilmo. Sr. Cristiano Menezes, é RACISTA e PRECONCEITUOSa contra a população NEGRA e a sua CULTURA. Durante meses o ´petista´ Cristiano Menezes enrolou-me prometendo abrir espaço na referida rádio para a veiculação de um programa multirracial denominado:CULTURA EM PRETO & BRANCO. O ´PT´ é tão ou mais RACISTA como e qualquer outro partido no BRASIL, contra a própria população NEGRA/ELEITORA que os colocam no PODER. Vou concorrer a deputado
estadual pela Cidade do Rio de Janeiro para usar o PODER POLÍTICO, exatamente para integrar a população NEGRA no contexto social brasileiro, através da CULTURA. Sem mais… no momento…
Respeitosamente, José Reis Dualibi, ´VIOLÊNCIA, TAMBÉM SE COMBATE COM
CULTURA´.’
A resposta:
‘Em primeiro lugar, basta ouvir a Rádio Nacional para conferir o quanto a negritude está representada em nossos programas, seja no programa Dorina ponto samba, onde recebemos artistas dos mais legítimos representantes da cultura afro-brasileira. Eu mesmo, muitas vezes apresento esse programa, cobrindo, quando necessário, a Dorina. Vale ressaltar a participação permanente de Rubem Confete, sambista reconhecido, nosso colega, funcionário da emissora e apresentador do quadro ‘Papo do Confete’, que faz parte do programa Dorina ponto samba. E não é apenas no Dorina ponto samba. Em toda a nossa programação, a negritude está presente. O programa ‘Tabuleiro no Brasil’, apresentado por Geraldo do Norte, dá ênfase à legítima música regional das mais diversas áreas do país, e nessa música, a negritude também está presente. A nossa programação musical cotidiana, que perpassa a grade ao longo do dia e da noite, também é toda costurada com artistas da mais alta expressão da negritude. Ao longo de minha gestão como Gerente da Rádio Nacional do Rio de Janeiro recebemos artistas como Paulinho da Viola, Paulo Moura, Arlindo Cruz, Monarco, Nélson Sargento, Áurea Martins, integrantes das velhas-guardas das escolas de samba, compositores das escolas, Bandeira Brasil, Wanderley Monteiro, Luis Carlos da Vila, Cláudio Jorge, Neguinho da Beija Flor, Dominguinhos do Estácio, Délcio Carvalho, Marquinhos Diniz, Ary do Cavaco, Luis Grande, Barbeirinho, Seu Nonô do Jacarezinho, Naná Vasconcelos, Jards Macalé, Tia Surica, Tereza Cristina, Carmem Queiroz, para citar apenas alguns, que agora enumero, de cabeça. Sou um reconhecido amigo do samba, do ritmo do samba, da poesia do samba, do significado do samba, dos poetas, músicos e compositores.
De fato o Sr. Dualibi andou ligando para mim. Atendia-o, sempre de maneira atenciosa, reconhecendo a legitimidade de seu pleito, mas jamais me comprometendo com qualquer proposta, jamais prometendo algo. Reconhecia-o como cidadão, reconhecia o direito do seu pleito, era paciente com sua insistência, mas não me comprometia a nada. A negritude está reverenciada em nossa programação como em poucas emissoras. Não em espaços determinados, mas permeando a
programação, como um elemento natural de nossa diversidade cultural. Não como um gueto delimitado, mas em meio a tudo, como acontece em nosso cotidiano. Ao declarar que irá se candidatar a deputado estadual, o Sr. Dualibi, dá margem a uma série de considerações sobre suas reais intenções. Na verdade, começo a crer que busca uma bandeira, uma causa, uma emissora para alavancar suas pretensões políticas. Entendo que esse não é o papel de uma emissora pública.
O Sr. Dualibi também se equivoca quando me classifica como ´petista´. Não sou filiado a qualquer partido político. Sou um profissional da comunicação. Cristiano.’