Depois da avalancha de manifestações de rua em junho, os protestos do dia 11 de julho perderam muito impacto e só ganharam espaço nos noticiários da TV Globo porque houve um claro interesse da emissora em associá-los à insatisfação contra o governo. Isto aumentou a importância do dilema, o que fazer agora?
Este blog é sobre observação da mídia e novos modelos de jornalismo, mas a procura de respostas para a pergunta acima me leva a mudar temporariamente o foco porque é uma dúvida que interessa a todos nós. Sou parte de uma sociedade em transição e por isto também sou responsável pela busca de respostas.
O reenquadramento das reivindicações populares pelos políticos e governantes, bem como a rotinização das manifestações de rua, principalmente as interrupções de estradas e transportes públicos, tendem a desvirtuar a mensagem original e saturar a população. Isto torna necessária a exploração de alternativas para que o desejo de mudança não fique só nas pichações.
Estou entrando num tema complexo e inevitavelmente polêmico, mas vamos começar pelo simples. A não ser que surja um fato novo, a opção pelas grandes manifestações já não apresenta mais o mesmo poder de mobilização que antes. Assim, o jeito é pensar em ações menores para atender a necessidades específicas e também preencher o vácuo político deixado pela apropriação das reivindicações feitas pelos manifestantes de junho pelos partidos.
A localização da mobilização social é um fenômeno mundial na medida em que é cada vez mais evidente o divórcio entre os governantes e as comunidades, provocado pela burocratização gerada pela tendência a normatizar o máximo possível o funcionamento da sociedade. Assim, esperar que os poderes executivo, legislativo e judiciário resolvam os nossos problemas pode gerar frustrações; eles simplesmente não conseguem entender as nossas dificuldades porque vivem a realidade dos gabinetes, na bolha de Brasília.
Qualquer movimento social, para crescer, precisa de resultados capazes de consolidar a unidade entre seus membros e atrair novos simpatizantes. Esperar por ações governamentais para questões globais como as expressas nas manifestações vai exigir uma longa espera porque haverá necessidade de acomodar uma massa enorme de interesses entre segmentos da cúpula dirigente do país. A necessidade de um mínimo de consenso inevitavelmente fará com que o acordo final sempre fique aquém do desejado pelas bases sociais.
Assim, a alternativa mais viável pode ser a possibilidade de ações locais capazes de dar continuidade ao espírito solidário despertado pelas manifestações. Resolver as deficiências nacionais no campo da educação vai certamente exigir soluções muito mais complexas do que criar uma creche do bairro ou montar um sistema local de alfabetização. Exemplos de que isto é possível não faltam. Basta ver o que acontece fora dos grandes centros urbanos.
A valorização comunitária pode ser a grande opção, embora não seja uma alternativa tranquila porque vai na contramão da tradicional dependência em relação aos poderes centralizados nos governos municipal, estadual e federal. Fomos educados para cobrar soluções e não para buscá-las por conta própria.
Esta talvez seja uma mudança que as manifestações sinalizaram e que só os seus participantes diretos podem sentir de forma direta. A saída às ruas, em junho, foi um processo de baixo para cima mostrando que as pessoas podem, e até desejam, romper esta dependência do verticalismo hierárquico. Agora a conjuntura mudou e provavelmente será necessário aplicar este mesmo espírito na busca de soluções comunitárias para problemas comunitários[1].
[1] Quando uso a expressão comunidades estou me referindo a qualquer tipo de agrupamento humano, desde associação de moradores até equipes de trabalho em empresas.