O jornal inglês The Guardian tornou-se um dos primeiros dos grandes jornais mundiais a admitir abertamente que em breve poderá abandonar a edição impressa para publicar notícias apenas na versão online.
Neil McIntosh, diretor de projetos editoriais do Guardian, em declarações ao jornal Press Gazette, disse que a mudança não é imediata, mas reconheceu que mais cedo ou mais tarde a sua empresa terá que decidir o que fazer com a edição impressa.
A declaração do executivo do jornal britânico é sintomática de uma mudança de atitudes dentro da maioria dos grandes grupos de imprensa no mundo ocidental. Quase todos eles abandonaram a denominação newspaper (notícia no papel) para se autodefinirem como empresas de comunicação, no sentido amplo.
Isto significa que para os grandes impérios midiáticos contemporâneos o jornal impresso não é mais o seu carro-chefe em matéria de estratégia editorial. O jornal norte-americano The Washington Post foi ainda mais longe ao definir a educação como a sua principal missão corporativa.
Essas mudanças estão acontecendo sem que o público leitor tome conhecimento delas pelas páginas dos jornais. Elas só se tornam públicas nas revistas especializadas ou nas reuniões de empresários, mantendo-se a velha tradição de hermetismo na discussão de temas corporativos.
O novo padrão, que é cada dia mais generalizado no negócio da comunicação, é a coexistência entre as plataformas online e offline na publicação de noticias. As versões online de jornais e revistas atraem público mas não conseguem dar as margens de lucro proporcionadas pelas versões em papel.
Há uma simbiose entre papel e web, que no entender dos especialistas não deve durar muito, pois acredita-se que haverá uma tendência da internet monopolizar a publicação das noticias de atualidade por causa da agilidade do meio eletrônico, segundo fica claro na série de entrevistas dadas por executivos da imprensa mundial ao Editor´s Blog, do Fórum Mundial de Editores.
A versão impressa acabaria por se especializar na publicação de material analítico e investigativo. É uma opção que muitos jornais consideram uma tábua de salvação, mas que vai criar uma concorrência com as revistas semanais de informação, já que ambos disputarão o mesmo espaço editorial.
Os jornais terão que passar por mudanças traumáticas para substituir a cultura do furo e da atualidade pela da análise e interpretação. As revistas, por seu lado, terão que apostar ainda mais na qualificação de seus repórteres, articulistas e ensaístas.