Nenhum dos grandes jornais brasileiros adota, em suas versões online, a ferramenta da interatividade entre repórteres e seus leitores. Isto significa que, ao contrário do que já acontece em jornais como The Washington Post e The New York Times, os leitores não têm a possibilidade de escrever diretamente para quem produziu a reportagem. Os jornais brasileiros não estão sozinhos nesta atitude. Também o francês Le Monde, o argentino Clarin , o inglês The Times , para citar apenas os grandes, não permitem um contato direto entre seus jornalistas e seu público, através da internet. O uso da interatividade já foi adotado por jornais como o Público, de Portugal, o The Guardian , da Inglaterra e o espanhol El País. A opção pela interatividade é uma questão estratégica para um jornal, já que é uma escolha cheia de riscos como foi o caso do jornal The Los Angeles Times , que criou um revolucionário sistema de editoriais produzidos com a colaboração de leitores mas foi obrigado a suspendê-lo por causa de comentários pornográficos postados por leitores. Deborah Howell, ombudswoman do The Washington Post, afirma que os jornais pagam um preço altíssimo em termos que credibilidade e fidelidade de seus leitores quando fecham, mesmo temporariamente, canais de comunicação com o seu público. A criação de redações interativas é uma tendência determinada pela mudança de contexto no processo da comunicação. Até agora predominava a preocupação com a disseminação da informação, onde o faturamento dos jornais vinha, basicamente, da distribuição de notícias para os leitores. Nos últimos dois anos ganharam importância as redes de informação, onde a comunicação acontece de forma interativa. O valor agregado da notícia não é mais determinado pela forma como ela é disseminada mas sim pelo número de contribuições que ela recebe graças à participação do público. A chamada web 2.0, um jargão para a web interativa, deixou de ser uma teoria e um projeto para se tornar uma realidade comercial altamente lucrativa como mostra a avalancha de imitadores do site MySpace , um dos 10 mais acessados na web mundial e que se tornou famoso como ponto de encontro de jovens. A grande maioria dos jornais e também dos jornalistas ainda tem muito medo da interatividade porque se trata de uma situação absolutamente nova, até para profissionais recém formados. Os repórteres de jornais interativos como o The Washington Post têm duas queixas principais como revela Deborah Howel: a agressividade de leitores nos textos de alguns comentários; e a falta de tempo para poder dialogar com o público. A reação mais comum é a dos que se queixam dos palavrões e insinuações grosseiras e segundo Rebecca Blood, autora do livro Weblog Handbook, reflete a falta de preparo dos jornalistas para lidar com o público. Ela recomenda que os que se sentirem agredidos não revidem e nem adotem represálias como fechar a janela de comentários. ‘A tolerância e a inteligência são as melhores ferramentas para desarmar os leitores agressivos’. Os repórteres de política, polícia e esportes são os mais sujeitos à comentários agressivos pelo emocionalismo e radicalização com que a maioria dos leitores trata estas questões. Mas a experiência tem mostrado que os próprios leitores acabam isolando os mais agressivos que perdem ímpeto quando não encontram uma resposta violenta da parte do jornalista. A questão da falta de tempo é mais complicada porque, além de mexer com o preparo individual dos profissionais, afeta as normas de trabalho dentro de uma redação. Aí toda a estrutura do jornal acaba tendo que ser adaptada. É neste item que se revela a tendência inovadora ou conservadora entre os chefes de redação e responsáveis editoriais. Os jornais estão apredendo aos trancos e barrancos como lidar com a interatividade nas redações. O lógico seria que houvesse um treinamento dos repórteres e editores, mas isto só acontece depois que erros graves são cometidos, como aconteceu no Washington Post. Conversa com o leitor
Peço desculpas pelo fato dos meus posts tem sido irregulares. É que meu tempo acabou ficando muito curto por causa da preparação de um colóquio latino-americano sobre observação da mídia e do acúmulo de trabalhos de fim de semestre na faculdade. Prefiro correr os riscos de irregularidade e não dos da superficialidade. Às vezes fica difícil mas num blog a gente não pode dar mole, porque os leitores marcam em cima. Obrigado pela paciência.