A rotina dos combates de rua entre policiais e manifestantes se transferiu agora para as páginas da Web, um terreno onde a inteligência é mais importante do que os cassetetes, bombas de gás lacrimogênio, pedras, sprays de pimenta e coquetéis molotov.
E neste front, os crackers (não confundir com hackers que são programadores legais) estão em vantagem, pelo menos no momento. Depois de invadirem o site da Polícia Militar do Rio de Janeiro para capturar dados pessoais de soldados e oficiais, eles retaliaram agora com a publicação da ficha pessoal de um soldado suspeito de ter postado na rede Facebook uma foto mostrando um cassetete quebrado que teria sido usado contra professores em greve.
O episódio ainda está envolto em muitas controvérsias sobre sua autenticidade, mas o fato concreto é que ele já configura uma nova estratégia do grupo Black Bloc, os mascarados que se tornaram figuras onipresentes na maioria das manifestações de rua nas principais cidades do país.
Os crackers que capturaram dados pessoais da tropa de PM carioca podem não estar vinculados aos Black Bloc, mas na pratica estão favorecendo os mascarados que cada vez mais caem no gosto dos manifestantes mais jovens. A ocultação do rosto está se tornando uma marca, uma identidade e menos um recurso para evitar a identificação.
A nova estratégia confere aos confrontos de rua uma nova característica, pois a internet dá aos que protestam a vantagem da inteligência e do conhecimento, o que obrigará a polícia e os responsáveis pela segurança a revisarem seus métodos de repressão. Os crackers estão usando a informação como arma, enquanto a polícia se apoia na força física, na atemorização e nas armas.
Para qualquer estrategista em formação de opinião pública fica fácil identificar, numa conjuntura como esta, qual o lado que tende a conquistar simpatias e qual o que as perde. E aqui é que se encontra a grande incógnita, sobre os desdobramentos deste conflito.
A intimidade dos jovens como as novas tecnologias digitais de comunicação lhes dá condições de serem mais criativos e de explorar as ferramentas que mais conhecem e que já se provaram eficientes, aqui e noutros países, em matéria de conquista de corações e mentes em conflitos de ordem político-militar.
Como as manifestações de rua no Brasil mostram sinais de continuidade, o desgaste da imagem policial e dos responsáveis pela segurança pública é quase inevitável. As autoridades não terão outra alternativa senão apelar também para a inteligência e criatividade. Só que neste terreno os jovens levam uma clara vantagem.
Os diferentes segmentos da sociedade brasileira perderam o medo de ir à rua ou fazer greves. Por isso o fenômeno dos protestos de rua e em locais de trabalho vai conviver com o movimento Black Bloc ainda por algum tempo. Muitos dos grevistas e manifestantes rejeitam o apoio dos mascarados acusados de vandalismo pela polícia e a imprensa. Outros veem neles um aliado interessante porque usam ferramentas políticas não convencionais como a internet.