Alguns leitores do Código criticaram o uso, que eles consideram excessivo, de dados e informações produzidos no exterior, especialmente nos Estados Unidos nas análises e comentários publicados no blog. Eles têm razão, há um desequilíbrio, mas os números não mostram toda a complexidade do problema.
Não é de hoje que existe um fluxo desigual de informações entre os países industrializados e o resto do mundo. Se este fluxo já era grande antes da internet, agora ele é ainda maior, mas houve uma mudança qualitativa que não está sendo levada em conta por nós brasileiros, a exemplo do que acontece também com outros povos.
A Web, a interface gráfica da internet, deu aos seus usuários a possibilidade de interagir entre si em tempo real bem como o poder de publicar dados, notícias, fatos e opiniões, sem passar pelos filtros da imprensa convencional.
Isto mudou as regras do jogo na arena da comunicação introduzindo novos elementos que tendem a reduzir o velho sentimento de subordinação, dependência e impotência diante das grandes superpotências informativas do planeta. Significa que, a médio prazo, existe luz no fim do túnel.
Em meados de março foi divulgada nos Estados Unidos, a edição 2008 do relatório The State of the News Media (O Estado da Mídia Noticiosa) , que faz uma radiografia da imprensa norte-americana, incluindo jornais, revistas, emissoras de radio, televisão, páginas web e weblogs.
É um exaustivo trabalho que vem sendo produzido anualmente pelo Projeto pela Excelência no Jornalismo e cujo objetivo é dar elementos para que o público, jornalistas e empresários passam discutir a situação da imprensa norte-americana.
Aqui não existe uma iniciativa similar, o que impede o leitor brasileiro, e também os jornalistas e empresários de obter elementos para analisar a imprensa que temos. A ausência desta reflexão sobre a situação da mídia brasileira é hoje um fator limitante em nossa capacidade de produzir o tipo de dados e informações exigidos para a nossa plena inserção na era digital.
A solução de um problema como este, que é essencial para nossos objetivos como nação, depende hoje exclusivamente de nós mesmos. Ainda existem bloqueios e reservas de mercado dos paises ricos em relação a tecnologias de ponta, mas a maior parte do hardware e software necessários para que possamos coletar e processar dados sobre a realidade da imprensa brasileiros está disponível da Web.
O surgimento de um informe Estado da Mídia no Brasil depende, é claro, de recursos financeiros, mas as exigências neste setor são hoje muito menores do que há uma década ou mais, porque dispomos de mecanismos de colaboração via internet. O que antes exigiria somas milionárias hoje pode ser feito com custos mínimos.
Coletar dados sobre a mídia brasileira, a partir da colaboração de leitores, jornalistas, pesquisadores da imprensa e empresários do segmento depende mais da iniciativa individual e setorial, do que de dinheiro e tecnologia.
É que nós brasileiros continuamos passivos diante de uma imprensa que sempre foi encarada como a dona da verdade e ainda não percebemos que discutir a mídia passou a ser tão importante quando votar em eleições.
Parece um exagero, mas se levarmos em conta que praticamente tudo o que fazemos hoje depende de informações e que estas informações ainda são fornecidas pela grande imprensa, fica fácil deduzir que decisões sobre escolha de candidatos passa pelo noticiário quotidiano.
A produção de pesquisas e informes sobre a mídia leva a uma maior transparência na produção de notícias, o que acaba beneficiando a todos, tanto os editores como os leitores de um jornal, por exemplo.
Aqui no Brasil já existem muitas organizações não governamentais com uma razoável experiência em matéria de monitoramento e observação crítica da mídia. Além disso, os leitores de jornais ou revistas, telespectadores, ouvintes e internautas podem contribuir com dados e informações importantíssimas para uma radiografia da mídia brasileira.
O Código convida os seus leitores para uma troca de idéias sobre o que foi publicado acima e desde já se coloca a disposição de todos os que estiverem interessados em produzir um Estado da Mídia Brasileira.