Os jornais correm sério risco de serem absorvidos pela fala fácil do presidente do PTB, Roberto Jefferson — e confundirem os leitores com versões discrepantes, que só alimentam a confusão e favorecem os implicados nos escândalos dos Correios e do mensalão. A simples reprodução da parolagem do deputado ameaça a credibilidade que a imprensa deve assegurar para evitar o envolvimento com as verdades, meias-verdades e mentiras que o parlamentar vem despejando torrencialmente nas últimas semanas, desde que seu nome apareceu no flagrante de propinagem nos Correios. Os jornais de hoje trazem novo exemplo de discrepância de informações. A Folha de S.Paulo reserva espaço na primeira página para o assunto na reportagem ‘Jefferson cobra do PT origem dos R$ 4 mi’. O Globo traz que ‘Jefferson admite que ficou com a chave do cofre dos R$ 4 milhões’. Ambos os jornais trazem praticamente o mesmo: o deputado admite que recebeu o dinheiro, mas recusa-se a dizer que destino deu a ele para ‘não expor os meus companheiros agora’, conforme acrescenta a Folha. A reportagem do O Estado de S.Paulo toma outro rumo. Em ‘Jefferson afirma que distribuiu ao PTB dinheiro doado pelo PT para campanha’, o jornal traz que, por meio de sua assessoria, o presidente do PTB disse que ‘cuidou pessoalmente da distribuição dos R$ 4 milhões doados pelo PT a seu partido na última eleição municipal. No entanto, avisou’, continua O Estado, ‘que só vai falar da distribuição quando o PT explicar a origem do dinheiro e der um recibo ao PTB’. Pergunta-se: afinal, o dinheiro foi distribuído ou continua guardado? A colisão de informações interessa aos corruptos que estão metidos até o pescoço no escândalo, a começar pelo próprio Jefferson. O ponto importante das reportagens — e que foi posto em segundo plano, porque os jornais preferiam relevar mais um desafio do deputado ao PT — é que Jefferson, na verdade, está respondendo à revelação do O Globo de anteontem, sábado, quando o ‘tesoureiro informal’ do PTB, Emerson Palmieri, afirmou ter dado todo o dinheiro para Jefferson. A imprensa tem à mão uma receita simples para tentar neutralizar ou minimizar a estratégia declarada do presidente do PTB, que é a de espalhar porcaria para todos os lados e, assim, reduzir as denúncias que pesam contra ele. Basta acrescentar, a cada nova denúncia, a publicação atualizada do prontuário do presidente do PTB. A apresentação desse complemento daria ao leitor, pelo menos, elementos para avaliar a confiabilidade do denunciante. A receptação do dinheiro de origem ainda desconhecida – o PT nega ter sido o doador, como registra novamente O Globo de hoje – é apenas um item da folha corrida do presidente do PTB. Por conta dessa receptação — que qualifica crime eleitoral — o mandato do deputado encontra-se rifado, mas ele não quer ser o único sacrificado. Ao projetar com alarido novas acusações do deputado – como certamente ocorrerá hoje à noite, no programa Roda Viva, da TV Cultura –, e sem lembrar as acusações que pesam contra o presidente do PTB, os jornais estão fazendo o jogo de um dos bandidos envolvidos nos escândalos.