Fazia tempo que não aparecia um texto tão bem bolado sobre o gênero de primeira necessidade chamado jornal – no caso, para os governantes – como o artigo do colunista Richard Cohen, do Washington Post, publicado na quinta-feira, 18.
Intitula-se “Como estourar uma bolha”.
A bolha de que ele fala é a que, menos ou mais espessa, envolve todos os governantes em toda parte, limitando o seu conhecimento do mundo real ao que o seu pessoal lhes filtra.
E se depender dos puxa-sacos e oportunistas entre os que a cercam, a autoridade só verá a vida em rosa. E eles darão um jeito de persuadir o chefe, quase sempre ansioso por ser persuadido, aliás, de que a mídia ou é desinformada ou conspira contra ele quando dá notícias que o deixam mal.
”Isso é um problema”, reconheceu Barack Obama em recente entrevista, citada por Cohen. “Uma das coisas que eu terei de resolver é como quebrar o isolamento, a bolha em volta do presidente.”
Obama, comenta o colunista, parece acreditar que o antídoto à bolha é o BlackBerry [computador de mão com celular]. “Não vai dar certo”, critica. “BlackBerry é bom para e-mails, mas será tão sincero como o remetente da mensagem na outra ponta.”
Mas existe, sim, uma espécie de remédio, escreve Cohen. “Chama-se O Jornal.”
Deixemos que ele explique:
”O jornal é um tanto antiquado e muitas vezes difícil de manejar, mas dará ao presidente as notícias que ele não quer ouvir. O jornal não é escrito com ele em mente. O jornal não é feito para agradá-lo e nem está procurando emprego. O jornal dará ao presidente mais opções políticas do que a sua equipe oferece, e mais informações também. Em 1956, o presidente Eisenhower respondeu a um repórter numa entrevista coletiva: ‘Você está me contando coisas sobre o meu governo de que eu nunca tinha ouvido falar.’ É isso que um jornal faz.”
”Um jornal de alta qualidade é um repositório de vazamentos. Presidentes não gostam de vazamentos, mas, como remédios que têm um gosto horroroso, vazamentos são bons para presidentes. Vazamentos são uma forma importante de uma parte do governo se comunicar com outra. O secretário-executivo de um Ministério não pode passar a mão no telefone e ligar para o presidente. O ministro não deixará. O ministro talvez queira bloquear algo de que o presidente devia ter conhecimento. É onde entra o vazamento. O cara do segundo escalão vaza a informação a um jornal e o presidente acaba lendo-a no café da manhã. Isso não tem como acontecer com um BlackBerry.”
”A imprensa está ferida, assediada pela internet, assaltada por uma economia andrajosa e desprezada pelo twitteiros como devagar quase parando e muito exigente. Reconheço também que os jornais às vezes erram e ocasionalmente têm morte cerebral. Mas, dobrado do jeito que aprendi a fazer quando era jornaleiro e atirado com a curvatura certa [para cair na porta da casa do assinante], um jornal pode no momento apropriado fazer o que nenhum BlackBerry consegue – estourar A Bolha.”
A íntegra do artigo está aqui.